domingo, 12 de outubro de 2008

O Meretrício

O meretrício

Gentil-homem
Estás à procura de que?
Dou-te afago, dou-te dotes
Mas vendo-te afeto
Já que ele, afeto, me custa tanto também

Dou-te o corpo, beijos, açoites
Como queira
Vendo-te a alma que se desfaz em dias e noites
O espírito inquieto que se move
E já não cabe em mim

Dou-te um filho,
Dou-te vozes e gemidos
E ainda sou capaz de vender-te um suspiro
Aquele que me sai ao peito
Quando bates a porta atrás de ti

Gentil-homem, quero dar-te meu suor
E em troca tomar o calor de teus braços
Mesmo que sejas tu a pagar por entregá-los a mim
Não vejo mal,
Não possuo mal
Sou blasfêmia, sou fêmea
E aceito meu destino, minhas formas
Sem álibis insinceros

Já não posso deixar-te ir
Sem que saibas o que te posso dar
Sem que tenhas o que te quero vender
Mais uma noite
Mais um dia
Algumas horas de prazer

Gentil-homem
Estarás diante de meus olhos
Mesmo que outro seja teu semblante
Outras sejam as mãos a estreitar-me os flancos
E outros sejam os lábios a percorrer-me a espinha
Outras anedotas,
Outras pagas idiotas
Outros sonhos que não quero crer


Anto 27-05-08

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