quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Terroristas por acaso


Terroristas por acaso

E naquela mesma viagem de 2005 rumo ao vêneto, nos deparamos com outras situações inusitadas.
Aquela euforia de viajar em grupo como muitos há muito não faziam e outros nunca tinham pisado sequer num avião. Era muita novidade, muita informação junta, muitas dúvidas desde aquelas mais banais como o que levar para vestir, até probleminhas preocupantes com passaportes e outras documentações.
Felizmente tudo deu certo e embarcamos sem problemas.
O vôo foi noturno, mas quase ninguém dormia. Conversas, filmes e logo pudemos ver a claridade do sol pelas frestas das janelas fechadas.
O café-da-manhã sendo servido e na sequência o alvoroço para os banheiros.
Nayrob se levanta e sem a menor cerimônia dá uma cheirada em cada uma de suas axilas.
Antes de continuar, preciso abrir um parêntese para apresentar Nayrob, essa figura humana extraordinária, diria o Faustão. Conta o próprio que sua mãe, ainda grávida, abriu o atlas e deu de cara com o continente africano, mais especificamente com o Quênia, cuja capital é Nairobi. E esse acabou sendo o nome escolhido para o filho, com algumas adaptações ortográficas, presumo, considerando a numerologia, a conjunção dos astros e estrelas, o solstício de inverno no hemisfério sul e o movimento da aurora boreal no norte.
Voltando ao avião da TAP que se dirigia ao aeroporto internacional de Lisboa, enquanto Nayrob conferia a intensidade do seu feromônio axilar, infelizmente bem próximo de mim.
De repente ele sumiu, voltando depois de uns dez minutos, com os olhos esbugalhados.
- O que aconteceu?
- Esse filho-da-mãe de comissário sem educação arrombou a porta do banheiro enquanto eu estava lá dentro, - esbravejou, indignado.
Todos quiseram saber o motivo prontos para ir tomar satisfações, já que no jantar um dos comissários deu um ataque porque um de nossos amigos ficou confuso entre escolher “pollo”, “gallllinhash” ou “chiiiiiiiiiiickennnn” (enquanto o tal comissário saltitava e batia as asas descontroladamente na nossa frente). Ah, esses comissários portugueses!
Então Nayrob finalmente explicou o ocorrido.
Reconhecendo que estava com o banho mais que vencido, conseguiu com uma de nossas amigas um desodorante aerosol (que é item proibidíssimo nos vôos, diga-se de passagem). Foi até o banheiro, arrancou a camisa e SHHHHHHHHHHHH…. momento em que dispara um alarme. No mesmo instante, um comissário simplesmente arromba a porta e o pega no flagra, com o desodorante em punho, enquanto os curiosos se aglomeravam para espiar do lado de fora. Depois do susto e da bronca, Nayrob volta para seu lugar, irresignado.
E para nosso desespero, o desodorante sequer amenizou a situação.

Aterrissamos sem problemas, mas tínhamos que administrar um outro problema. Cerca de quarenta minutos para desembarcar, passar pela alfângeda e pegar a conexão para Veneza.
Quem tinha o passaporte da comunidade européia pegou a fila menor e logo estava do outro lado, aguardando os demais que ficaram na longa fila dos estrangeiros.
Gianni, nosso tutor os acompanhava. A um certo ponto, já aflitos pela demora, vimos pela vidraça uma movimentação estranha e um tumulto em volta do nosso grupo que passava as bolsas de mão pelo raio X.
Pegaram a bolsa de um, jogaram tudo no balcão. A bolsa de outro e mais outro… Pronto, alguém vai ferrar o grupo todo, pensamos.
E o relógio corria, nossa conexão já esperava. E aquela confusão que não se resolvia.
Finalmente, depois de minutos que pareceram horas, olhares assustados, o grupo aparece correndo na sala de embarque. Conseguimos embarcar.
A explicação foi a seguinte. Os portugueses viram pelo raio X uma faca (uma faca?!) na bolsa da Andrea e por via das dúvidas fizeram com que todos despejassem suas coisas para revista. Nisso rolou cueca de um, pijama de outra, meia, pasta de dente… e a faca que Andrea havia pego no avião como souvenir junto com o garfo e a colher.
Resolvido o mistério, os talheres recuperados pelos portugueses. E quase acabamos deportados antes mesmo de chegar ao destino.



Um comentário:

Anônimo disse...

HAHAHAHAHAHAHAHHA
Ganhei o dia, li de novo a histórinha!!!!

Sensacional!!!! To chorando de rir aqui.

Bjão Ton