sábado, 15 de novembro de 2008

O gato


O gato

Pêlo em seda
Tocar-te acalma,
Deixa livre a alma
Dos pensamentos generosos
Deita em cena
Faz breve miau
Procura teu mingau
Morninho na tigela
Tantas vezes saltou a janela
Que as sete vidas já se multiplicaram umas sete vezes
E já tem com ele o treze
Que todo o gatinho preto que se preze
Leva aferrado em sua sombra
Modesta
Manhosa
Criatura dengosa
Pelagem gostosa
Mia, bichano,
Mia…
Se espicha pelo tapete
Rola,
Espreguiça
Se enrosca pelas pernas
E dá mordidinhas de amor
Patadas,
Ronrona
Arranha o tecido da poltrona
Foge,
Se esconde
Do ralhar de seu amo impaciente
Deixando enternecido a ele,
De repente,
Quando está a fazer mais um dengo
E à beira da porta se põe molengo
Querendo um afago
Ou até mesmo uma sobra de peixe


Anto 1°/02/08

Texto sobre relacionamentos - Não trate como prioridade quem te trata como opção

Aldo Novak*

A sua felicidade não pode depender do que não depende de você.
Não trate como prioridade quem te trata como opção.*
A sua vida merece uma chance de ser especial e memorável. E isso inclui em que você se dedique para fazer a vida de alguém especial, feliz e completa.
Com sorte, também significa ter alguém que faça isso por você. Não por dever, apenas, mas por ser um caminho apaixonante da realização.
Mas, infelizmente, no que se refere ao relacionamento entre duas pessoas, não podemos controlar todas as variáveis, as limitantes e os resultados. Até porque os resultados envolvem diferentes percepções, desejos e níveis de comprometimento.
O amor, embora seja um verbo, antes de uma emoção, é uma daquelas áreas nas quais todos nós gostaríamos de controlar os dois lados da equação, mas só podemos controlar o nosso lado. E torcer.
Um romance, seja ele namoro, noivado, casamento ou bodas de diamante, exige que os dois queiram dar um passo em direção ao futuro misterioso todos os dias - juntos. Mesmo que seja para sofrerem juntos, desafiando os problemas.
Se você é do tipo que quer casar, e continuar se comportando como solteiro, então é melhor não casar. Fique como está.
Sei que o que está na moda é a fantasia de que "ser livre" é o melhor.Ser independente. Mas, apesar do estardalhaço que algumas revistas semanais fazem, dizendo que muitas pessoas querem ficar sós, não é a realidade que encontro com meus clientes. Para mim eles, e elas, dizem a verdade. E a verdade é diferente daquilo que dizem para o show da mídia, ou para uma roda de amigos.
Ninguém quer ficar só. As pessoas apenas vestem uma confortável imagem de que a"liberdade" é mais vantajosa do que o compromisso, assim como dizem veementemente que jamais entrarão em um supermercado que os tratou mal - só para irem direto lá, quando tiverem que comprar algo.
Quando o silêncio das paredes internas do coração começa a ser escutado, o "caldo entorna", e você se pega pensando em passar os próximos anos vivendo com aquela pessoa.
Na medida do possível, apoio meus clientes em seus sonhos e desejos. Mas, nem sempre. Há momentos nos quais você deve olhar bem para aquela pessoa que está tratando você apenas como uma opção, uma alternativa temporária, e deixar de ter a vida dela como sua prioridade.
Algumas vezes, ser a pessoa ideal não é o bastante. Especialmente, quando o outro lado da moeda tem uma lista de prioridades enorme, e você aparece em um ingrato 256° lugar.
Naturalmente, há momentos nos quais um amor não pode lhe dar atenção. E ajudo meus clientes a entenderem isso. Há altos e baixos em qualquer vida, por isso não devemos assumir o pior, apenas por um problema temporário.
Mas, há também situações nas quais você precisa entender que talvez haja muito mais dentro de você do que a outra pessoa nota ou dá valor.
Quase dois anos atrás, uma cliente tratou exclusivamente deste problema comigo. Ao final do nosso processo de trabalho, ficou claro que ela não era prioridade nenhuma para o noivo. Era apenas uma opção e um "problema" na agenda. Depois de tentar tudo e mais um pouco, ela rompeu o noivado. Ele teve todas as chances de abrir os olhos.*Ela deixou de tratar como prioridade, aquele que a tratava como opção.*
Na última segunda feira, ela me telefonou e convidou para seu aniversário (é comum meus ex-clientes tornarem-se amigos). Aniversário e noivado. Com outra pessoa, claro. O engraçado da história? É que o "ex" diz ter descoberto, tarde demais, que "ela era a mulher da vida dele". Flores, presentes e telefonemas não adiantaram --minha cliente me autorizou a contar a história, sem revelar seu nome. O que existe no coração dela, agora, são as lembranças de ter sido apenas mais um item, em uma agenda lotada. Agora o coração dela já está em outra vida. Ela tem outra prioridade. E o noivo atual a vê como prioridade também. O verbo amar, entre eles, se transformou no sentimento.
Agora, o ex-noivo é carta fora do baralho. Lembre-se: *Não trate como prioridade quem te trata como opção. * Dê todas as chances que puder. Mas, quando não houver mais o que fazer, não faça. Pare de tentar. Você saberá quando a hora chegou. Você saberá quando já tentou tudo. E, quando chegar este momento, olhe ao redor. Se alguém não trata você como prioridade, há quem trate. Ai pertinho de você. É só olhar com o coração. Você merece ser prioridade de alguém. Você merece ser o rei, ou a rainha, e não o vassalo, ou vassala. O amor é um jogo de "iguais de coração".

Aldo Novak - jornalista, conferencista e coach

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Incansável

Incansável

Na inexatidão dessas palavras
Encontro-te
Quase um octópode
Com teus oito braços
Cada qual com sua função
Obedecendo ao cérebro
Em irrefreável comunicação
Um acanhamento mobiliza
A boca entreaberta na pergunta
Lá fica, se paralisa
E num instante
A verborragia toma a direção contrária

Anto 13/11/08

Você sabe o que é um passeio socrático?

Você sabe o que é um passeio socrático?
Frei Betto*

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: - Não foi à aula? Ela respondeu: - Não, tenho aula à tarde. Comemorei: - Que bom! Então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde. - Não, retrucou ela, tenho tanta coisa de manhã... - Que tanta coisa?, perguntei. - Aulas de inglês, de balé, de pintura, natação, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: - Como estava o defunto? - Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!

Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa? Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais.


Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais... Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é 'entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem se deixa iludir desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios.

Quem resiste, se sente louco porque não faz parte da neurose coletiva. Os psicanalistas - que também desejam 'ter' e não se satisfazem com o que são, o que amam, o que fazem - tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. O grande desafio é gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas... Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus, como os que outrora foram convencidos a comprar a própria absolvição. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's.. .

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: - Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: - Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: 'Estou apenas observando quanta coisa existe e das quais não preciso para ser feliz.'


*Frei Betto - Frei dominicano. Escritor. Autor, em parceria com Luís Fernando Veríssimo e outros, de 'O desafio ético' (Editora Garamond), entre outros livros.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Parte de mim

Parte de mim

Sou teu lado
Teu vazio
As horas severas
Em que passas arredio
Distante
Já pequeno, ao longe
Em sandálias de retirante
Vizinho da implacável sede
Que de ti não se compadece

Sou teu mapa
O riso rouco
E apertado depois de um tapa
Tua mão espalmada
Impressa em vergões
Aqui jaz estampada
Arroxeada
Ardida
Num castigo que nem sei se mereci

Mereci!
Como mereço o que me trazem os dias
Um após o outro
Nos falsos limites
Da idiossincrasia
Em que te entrego
De mão beijada a outra face
Outro tapa!

Não lamento
Não choro
Nem me escondo
Não tenho medo
Se de mim desabrocha um monstro
Que ama
E odeia
Que me aprisiona
E quer me consumir

Ah! Triste parte de mim
Que fim!
Se podes perscrutar minha vida
Saberás que do mal que faço
Já nasci arrependida
Fui-me mais de uma vez
E não tolero outro retorno
Não quero

Me deixa!

Anto

Iluso amor

Iluso amor

Calor! Que sorte tens tu que me abrasa
Num ninho, despido das nobres vestimentas
És forte na paixão em que me acontentas
Vigor no abraço destemido que me abraça

No cerne da mais pungente aflição
Enquanto ao vento sacodem-se as toalhas
É o amor já desfeito em mil migalhas
Desmanchando-se nas manchas de um borrão

Uma flor que carrega o perfume
Doce no olhar que não me cabe
Resta um pranto, em débil queixume

Enviado por sabe lá quem e quando
Não importa, já não existe dolo ou culpa
Há quem siga eternamente amando


Anto 29/05/08

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Coração



Coração

Pulsa
Bombeia
Se abala
Sofre
Bate
De felicidade
De medo
De ansiedade
De compaixão
De ternura
De paixão
De loucura
De amor
De fissura
De dor
Bate
Sofre
Se abala
Bombeia


E ainda pulsa…




Anto 08