quarta-feira, 25 de março de 2009

Inferno astral

Inferno astral

É uma vez por ano. Ufa! Ainda bem.
Calma. Não sou uma aficcionada por astrologia, daquelas que não sai de casa sem conferir o horóscopo. Aliás, mal sei as características do meu próprio signo, touro.
Vamos lá, taurinos são pessoas sensiveis, amantes de coisas belas, mantém os pés no chão, são sensuais por natureza e, acima de tudo, obstinados (sinônimo mais chique para a popular teimosia).
Mas uma coisa eu li e repito pois é a mais pura verdade: Nunca prometa algo a um taurino que não possa cumprir.
Isto seria assinar a própria sentença de morte. Obviamente não cheguemos ao extremo de achar que todo taurino é um psicopata, mas promessa não cumprida equivale a uma mentira e, por consequência, a mentira é uma espécie de traição – o que todo bom taurino não admite, assim como a maioria das pessoas dos 12 signos do zodíaco, imagino.
A propósito da modalidade astral, a palavra inferno remeteu-me a uma lembrança.
Hoje cedo, ao levar minha filha à escola contei-lhe um fato curioso.
Dia desses, no trânsito, reparei na placa de um carro que ia à nossa frente, 6666. Nossa! Ainda comentei com o Marcelo que jamais compraria um carro com essa numeração, quando me dei conta das letras LCF que a precediam.
Credoooo!
L(u) C(i) F(er)… Naquele momento, uma vibração sinistra, um final de tarde entre chuva, alagamentos e trovoadas, um carro cinzento com placas LCF 6666…
Virou a esquina, ainda bem!
Raciocinando friamente, é até uma excelente tática para evitar assaltos ou furtos. Esses meliantes costumam ser supersticiosos, ao avistarem a tal placa duvido que ousassem desafiar a chefia. A não ser que se tratasse de algum patife distraído, mas aí azar dele pois até para delinquir é preciso certa competência.
Tá ligado, mano?

- Mãe, o que quer dizer LCF?
- L de lu, C de ci e F de fer, portanto, lucífer.
- Quem é esse cara?
- Você não sabe? É o satanás, o demônio!
- Mãe, não diga isso tão alto. Assim você atrai.

E lembrei-me dela perguntando outro dia quem era satanás. Continuei:

- Então como você quer que eu diga?
- Diga só demo, bem baixinho.
- Não tem problema, a gente reza e se protege.
- Nossa, mas ele tem vários nomes, né?
- Claro, assim como Deus, vários nomes.

Outra estratégia bastante possível: esquivar-se de multas. De bobo o cara não tem nada. Por mais caxias que seja, estou pra ver amarelinho/marronzinho do CET aplicando multa no motorista do demo. Duvido! Acho que esse nem radar pega.
Mas voltemos ao inferno astral.
É um bom pretexto para atribuir culpas imateriais sobre coisas que dão errado durante esse período. Na verdade, matéria os astros têm de sobra e os físicos diriam massa para comprovar suas existências, ainda que estejam bem distante do nosso mundinho.
Acordar de mau humor seria culpa de quem, não fosse dos astros?
O arroz queimou na panela, o pneu furou, o computador pegou um vírus, a conta venceu, a chuva alagou a cidade mais uma vez… tudo por conta do capricho astral.
O único senão é a quem culpar quando finalmente nos libertamos desse inferno no dia seguinte ao nosso aniversário.
Então, por via das dúvidas, acho que vale um “vade retro satana”, pois como já diziam os sábios, melhor prevenir que remediar.
Amém!

Anto 25/03/09

terça-feira, 24 de março de 2009

Lidando com decepções - a dificil arte de engolir sapos.


Lidando com decepções – a dificil arte de engolir sapos.

Ao longo da vida nos deparamos com algumas centenas de pessoas.
Conhecemos gente nova desde que nascemos, a começar pelos parentes e amigos próximos, nossos avós, tios, primos, vizinhos e assim por diante.
Na escolinha, a primeira fase de interação com seres absolutamente desconhecidos, não raro chegamos a sofrer um pequeno trauma. Afinal é lá que tomamos consciência pela primeira vez de como as pessoas são diferentes umas das outras.
Cada criancinha tem lá seus hábitos, suas manias, vontades e personalidades próprias e nessa fase dificilmente alguma delas será politicamente correta em nome de principios de igualdade e da boa convivência entre os amiguinhos. Por isso são frequentes os tapas, mordidas e palavrões, cujos significados nem ao menos conhecem.
A expressão engolir sapos definitivamente não faz parte dos seus vocabulários e tal metáfora só poderá ser entendida anos depois, quando houver necessidade de ser aplicada e incorporada ao modo de vida de cada um, já que a sociedade é regida por regras e controlada mediante punições.
O que pode e o que não pode em relação ao próximo. Isto era discutido antigamente nas escolas em aulas de Educação Moral e Cívica.
Não sei o motivo, mas esta matéria de extrema utilidade foi suprimida da grade curricular dos colégios, para dar espaço talvez às aulas de informática e educação sexual, ambas já ministradas no ensino fundamental I, hoje equivalente aos anos do nosso antigo primário.
Atualmente parece ser mais importante para crianças de 9/10 anos a navegação na internet e aprender as técnicas de vestir a camisinha em uma banana, do que respeitar ao próximo.
Entretanto, como sou das antigas, julgo que engolir sapos é um mal necessário. Ainda que a vontade seja a de ter um ataque e sair xingando e quebrando tudo pela frente, a civilidade, amizade, razão, bom senso ou qualquer que seja o outro nome dado para o que não podemos fazer em relação ao próximo, nos ensina a exercitar a paciência e a tolerância.
Na minha opinião isso não é cinismo, nem sinal de fraqueza, mas um artificio necessário para evitar o inicio de conflitos que facilmente poderiam transformar-se em guerra.
Com certa frequencia tenho me deparado com pessoas que não merecem tanto sacrificio e os sapos em tais casos tornam-se ainda mais dificeis de engolir e extremamente indigestos.
Aí me pergunto até que ponto é preciso exercer a moral e a civilidade em face da convivência com gente que demonstra total falta de consideração?
Mente quem diz que faz alguma coisa sem esperar nada em troca. A gente sempre espera algo, um agradecimento, um reconhecimento, um sorriso que seja, mesmo em se tratando de uma obrigação a cumprir.
Esperar que os outros ajam como agiríamos certamente será motivo de frustrações e decepções e isto me dá a impressão de que as aulas de Moral e Cívica foram insuficientes e que a melhor politica hoje em dia talvez seja imitar a maioria ligando o botão foda-se, sem a menor dor na consciência.

Anto 24/03/09