O dia da razão
Haja o dia
Em que agirão em tributo
Festejando insólitos atributos
Por bordões meramente sustentados
Rescindiram-se as amarras
E não existe o dolo
Não há bocas, nem caras
O sentir é que se vai distante
Em horas amargas
Em momentos sós
Onde os laços de sangue
Já não importam
E não se reconhecem
A certeza individua
Aquece as mágoas
Se alonga, se arrasta, perpetua
Nas frivolidades que se criam por hábitos
Maus hábitos, maus costumes
Que o orgulho impõe
Sobrepujando o perdão e a compreensão
Há tantos outros males no mundo
Rondando os incautos
Levando-lhes o vigor e a decência
Enquanto lamentamos
A vil e insana decadência
Que se instalou pesada
Segregando a inocência
De quem ainda não havia
Sucumbido totalmente à maldade
Os pormenores agora me fogem
Quando e onde são questões perenes
Sem começo, meio ou fim
Sem apreço, um talvez, um não, um sim
Venha luz,
Traz-me as marcas no rosto
Ainda quero ter o gosto
De contar cada uma delas
E saber que o espelho mostra
A parte anterior e não as costas
Que recebo de tempos em tempos
Como paga à recusa
De apresentar postura curva
E resignada com os açoites n’alma
Creio ter demonstrado clareza
Não me acabo mais em sutilezas
Nem me cabem mais os sermões
Que tomaram-me as lágrimas doídas
De toda uma lacônica vida
Anto 23/04/08