quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Pra que escrever?

Tenho escrito. Pra retomar velhos hábitos, ocupar certos vazios. Pra matar as saudades de mim. Tenho escrito por um reconforto da alma e pra exercitar os músculos da mente. Tenho escrito pra erguer uma fortaleza de palavras e me abrigar em seus contornos, escondida entre o P e o Q. Pra aquecer meus pés numa fogueira enquanto digito em meu caderno de verdades as mentiras que gostaria de dizer. Acho que perdi o senso da realidade. Me perdi dela faz tempo. Não porque quisesse, a intenção mora longe daqui. Perdi o que se pode perder nessa vida, sem perder a única coisa que não poderia, a própria vida. Estou perdida. Tenho escrito pra não me esquecer das coisas que vivi e, de uma certa forma, pra esquecê-las todas e jogá-las num canto escuro qualquer, de onde não possam fugir. Tenho escrito coisas bobas, sem a menor importância e perdido tempo com isto sem ter consciência de quanto dele ainda tenho nas mãos. Um ano? Uma década? Um século? E se Deus me der muito tempo ainda, o que farei dele? Não tenho tanto mais pra escrever.

Anto 1°/09/10

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Mãos



Mãos



Quem são elas, as mãos?
Instrumentos do corpo
Que levam adornos
Pegam coisas, realizam tarefas
Que salvam vidas, que trazem à vida
Mãos que trabalham, que constróem
Empunham armas, matam, destróem
Mãos que afagam, acariciam
Que amam e fazem enlouquecer
Mãos que se dão as mãos
Também dizem não
Atam e desatam nós
E a nós
Mãos que enxugam lágrimas
Que causam e curam feridas
Mãos delicadas, mãos partidas
Que escrevem e apagam palavras
Mãos que traduzem notas
E provocam música
Mãos que falam
Mãos duras, mãos pesadas
Que plantam, colhem e recolhem
Mãos podem ser lidas
E podem ler na cegueira
Mãos aladas, mãos brejeiras
Mãos tateiam e encorajam
Estancam e acalmam
Mãos que prendem
Que retêm, que apóiam
Mãos que saúdam
Que oram à Deus
Mãos que dizem adeus

Anto set/2010

domingo, 29 de agosto de 2010

Pedaladas

Domingo à tarde - Elevado Costa e Silva



Domingo de sol, calor, secura no ar. Final de tarde tranquila, sozinha, céu azul. Peguei a bike, segui para o elevado. Algumas pedaladas e cheguei rapidinho. Esta não foi minha primeira incursão ao local, havia estado lá algumas semanas atrás, também de bicicleta, mas apenas com o espírito esportivo, nada mais.

Hoje em especial, muito só com meus pensamentos, aproveitei para levar a câmera. Pedalei com um outro olhar, devagar, observando tudo ao meu redor. Estranhamente, me encontrei adentrando em um outro mundo.

Enquanto seguia, via de pertinho as casas de tantas pessoas, era como se entrasse dentro delas sem ser convidada. Alguns, comedidos, escondiam a intimidade dos lares por trás das cortinas esvoaçantes, outros porém expunham suas vidas em precários terraços, se abraçavam, se insinuavam e riam com copos de cerveja nas mãos, enquanto o som alto que vinha de dentro invadia as pistas não de dança, mas de rolamento.

O sol caía por trás dos edifícios, calmo, bem devagar. Ainda havia luz suficiente e tempo para percorrer o elevado de cabo a rabo, como se diz. Parei sobre um local degradado, chamado popularmente “Castelinho” por sua arquitetura que lembra um castelo de pequenas proporções. Saquei a câmera e tirei algumas fotos. Pichações, uma kombi estacionada, indicando que o prédio serve de moradia para alguém ou vários alguéns. Não fiquei conjecturando outras possibilidades porque queria seguir adiante.

No trajeto desviei de várias pessoas passeando, crianças brincando, jovens fumando e bebendo enquanto jogavam conversa fora, cães correndo alegremente, gente andando de skate, patins, tomando água de côco, tocando violão, lendo, tirando fotos... A diversão mais popular hoje em dia acho que é tirar fotos com as câmeras dos celulares. Vi as pessoas no elevado fazendo pose, fotografando e sendo fotografadas e fiquei pensando como isto é simplório, mas as faz felizes e se sentirem importantes para alguém.

Passei distraída e quase levo uma bolada de um menininho.

Segui observando os prédios ao longe. A Avenida São João, o Arouche, o Edifício Itália, o Copan, a torre do Banespa, o Largo Santa Cecilia, a Santa Casa, os hotelecos da General Olímpio e um sem número de janelas das residências. Algumas até bonitinhas, com suas plantas, flores. Outras empoiradas, vidros quebrados. Tênis secando no parapeito estreito, roupas em varais improvisados, passarinhos prisioneiros em suas gaiolas, gente empoleirada observando quem as observava do elevado, tão acostumadas com aquele indo e vindo de carros durante a semana e os invariáveis pedestres nos domingos e feriados.

Um caminhão de lixo aproveitava para recolher o que os pedestres largavam pelo chão. Era praticamente uma praia sem areia, nem mar. Os garis varrendo, deixando tudo limpinho para a semana que se inicia logo mais. Eu nunca havia imaginado que por ali passava caminhão de lixo.

Alguns locais pareciam ser cortiços. A idéia de cortiço que tenho é a descrição que Aluisio Azevedo faz no homônimo “O Cortiço”, mas faz muito tempo que li, ainda no colégio. Lembro que meu pai contou já ter morado alguns meses em cortiço quando veio para o Brasil. Coisa típica de imigrante que não conhecia o idioma e vivia com as economias que trouxe de fora, enquanto buscava um emprego. Na minha cabeça, um ambiente de cortiço remete àquela coisa de dividir tanque, banheiro, pegar água no poço e ter como vizinhança desde trabalhadores humildes como também putas, michês, moribundos, foragidos, crianças e mais crianças correndo descalças, com seus narizinhos escorrendo. Uma realidade um tanto romanceada, mas presente em outras configurações por todas as esquinas da cidade.

Passei por um quarteto jovem que era fotografado por profissionais com suas câmeras e refletores. Presenciei um meio-atropelamento de uma criança e a mãe desta xingando o menino atropelante, que mal se equilibrava em sua bicicleta de “safado”. Mas, safado?!

Após uma das curvas, vi dezenas de pessoas perfiladas e sentadas na rampa de acesso para o Largo do Arouche. Acendiam seus cachimbos de crack, vários e vários cliques dos isqueiros como vaga-lumes na escuridão do local. Fiquei ali parada por um momento, querendo fotografar essa outra realidade. Pedalei de novo pelo local após alguns minutos, ainda tentada a fotografar, mas não o fiz. O número de drogados havia aumentado. Uma pai passou por mim com sua filha ainda criança, aproveitando o momento para mostra-lhe e explicar-lhe sobre aquilo.

Com aquela triste imagem, achei que estava na hora de ir embora.

Ultrapassei corredores, ciclistas, casais de namorados heteros e gays.

E naquele ínterim o céu escurecia, o sol se escondia um pouco mais e meu domingo terminava silencioso, enquanto à minha volta se ouvia apenas o barulho do vento.

Anto 29/08/10

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Um outro dia


Um outro dia


Sentei no degrau da escada
Pendi um pouco a cabeça
E pensei

Mais uma vez
Lembrei
Chamei seu nome dormindo
Perdida
E não ouvi resposta


Andei escrevendo poesias
Pra me libertar um pouco dessa dor
Dizem que é melhor escrever na tristeza
Porque na alegria só sabemos rir
E nossos pensamentos vão longe
E a dor é outra, boa de sentir
Uma saudade leve,
Uma insanidade louca
E segura de que teremos uma mão lá do outro lado
Uma pele
Uma boca


Mas agora não sei mais
Escrever
Sem morrer um pouco a cada verso
Sem perder pequenos pedaços de felicidade
E a saudade de repente ficou má,
Cruel até
O algoz que me suga
E me mata um pouco a cada dia


Não sei o que isto quer dizer
Não entendo essa linguagem retórica da alma
Nem a maneira desconexa com que a vida se apresenta


De repente, um pensamento
Ou ele simplesmente não me deixa
Um só segundo
E todos os outros segundos seguintes
Dormir transformou-se num alento
Até o próximo amanhecer
Difícil abrir os olhos a cada dia
Prefiro não
Me faz adormecer
Mais uma vez


Anto ago/2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Desfeita




Desfeita



Em resposta aos por quês,


Sobrei


Meio rouca,


Meio pouca


Meu peito partido em dois pedaços


Uma folha, das de almaço


Amassei sem nem perceber


Havia ali umas frases


Algumas palavras jogadas no branco vazio


Um desenho


Uma geometria rabiscada


Sem cor


No rancor de certas mágoas


É que o peito se desfez


E me desfiz, assim como ele


Uma nuvem desfeita no céu do fim da tarde


Perdida,


Um pouco em cada parte



Anto agosto/2010

domingo, 8 de agosto de 2010

Aprender com os acertos

Texto interessante do personal coach Marcelo Mello.

"Lá no livro que estou escrevendo, dediquei um capítulo inteiro a um assunto que acho de extrema importância, mas que pouca gente dispensa atenção. Eu gosto de pensar sobre isso mesmo que tenha que lutar ferrenhamente contra minha própria mente que, muitas vezes, insista em me empurrar para o outro lado. Existe por aí uma crença, uma dessas verdades absolutas óbvias que diz assim: Devemos aprender com nossos erros.



Eu, nesse capítulo, caminho também para o outro lado, insisto que devemos aprender com nossos acertos. Isso não quer dizer que devemos deixar o óbvio de lado. Devemos sim aprender com os erros, mas e os acertos? Por que é que sempre levamos em conta, ou melhor, levamos mais em conta nossos erros do que os acertos? Que medo é esse de se orgulhar pelos seus feitos? De onde vem essa bobagem? Da religião – seja ela qual for – que têm em comum a pregação da humildade? E quem disse que não podemos bater no peito quando acertamos?



Tudo isso é uma discussão longa e não quero perder tempo com isso aqui neste texto. Quero enfatizar outra coisa, quero que você deixe de lado um pouco seus erros, afinal de contas, se é óbvio que você deve aprender com eles, na minha cabeça já aprendeu, assim sendo, não é preciso falar mais sobre isso.



Minha proposta é que criemos uma nova crença, uma nova verdade absoluta, mais positiva, mais importante e menos dolorosa. Sim, pensar nos erros, mesmo que aprendendo com eles é dolorido. Como disse, entendo que esse processo se dá naturalmente por ser óbvio. Se fogo queima e aprendemos isso quando colocamos a mão na chama, não precisamos mais repetir essa atitude. Nesse ponto importante temos que ligar o piloto automático. Não é necessário gastar energia pensando nisso.



Já na questão inversa, aprender com os acertos, é preciso que nos acostumemos a fazer desse processo algo que venha a ser natural, automático. Não é fácil, como já disse milhares de vezes, nossa mente joga contra nós mesmos, o que é um absurdo, talvez uma falha do sistema operacional humano. Culpa de Deus? Não sei, mas é fato que somos muito mais negativos do que positivos. Esse desequilíbrio mental é uma das coisas que mais atrapalha a vida.



Sei que muita gente não enxerga o óbvio e cai naquela espiral descendente repetindo os mesmos erros, repetindo comportamentos que fazem mal a elas mesmas, mas é preciso que isso mude de uma vez por todas. Muita gente cai nessa onda porque não conhece a diferença, porque não sabe como agir diante das dificuldades, não sabe como proceder no momento das escolhas importantes, enfim, há que se estancar essa hemorragia. O que muita gente faz é o mesmo que estancar uma hemorragia fazendo mais um corte. Absurdo quando colocado dessa maneira exagerada, não? Pois é, mas isso existe.



Aprender com os acertos ninguém leva em conta. Mesmo que os resultados sejam satisfatórios, a impressão que dá é que se tem medo de repetir as fórmulas boas que a própria vida nos ensina. Parece que há uma soberba embutida na mente das pessoas que batem no peito enaltecendo seus grandes feitos. Tudo bobagem. Claro que há exageros, mas sei não estou aqui perdendo tempo escrevendo para pessoas tolas, pelo contrário, sei que a maioria jamais se deixaria contaminar pela soberba. O que estou querendo dizer é que dentro de limites aceitáveis, devemos sim, por obrigação, levar em conta nossos acertos. E podem ter certeza absoluta que não são poucos.



Ninguém é tão triste quanto pensa. Ninguém é tão incapaz quando imagina. Ninguém mesmo. Uma vez escrevi um texto que mexeu com as pessoas. Nele eu dizia que somos capazes de tudo, de qualquer coisa. Creio nisso com todas as minhas forças porque já vi coisas nesse sentido que vocês jamais acreditariam.



Só que é preciso falar algo que talvez eu não tenha dito naquele texto: Somos capazes de tudo sim, mas entenda-se que “tudo” pode ser negativo também. Somos capazes de nos destruir da mesma forma que somos capazes de nos construir.



O problema, a diferença é que – isso serve para tudo – destruir é muito mais fácil do que construir. Para uma implosão, basta meia dúzia de bombas bem distribuídas e, um prédio que levou anos para ser erguido, vem abaixo em segundos.



Pergunto diretamente a você aí que pode não estar lá muito satisfeito com sua vida atual: Será mesmo que você só cometeu erros ao longo da sua jornada? Eu sei que não. Então, mãos à obra, temos que reconstruir o que você está tentando demolir."




MM



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Diário


23° dia – Ontem fui no karate, me troquei rapidão e de lá voei para o Conjunto Nacional. Quando cheguei no teatro, dei de cara com o Gikovate na porta e já tinha muita gente aguardando. Sentei ao lado de um senhor e perguntei sobre como fazer perguntas. Havia um papel em cima de cada assento, mas eu queria perguntar no microfone. Ele não soube informar, disse que era sua “primeira vez”. A minha também, respondi. Ouvi duas mulheres atrás de mim conversando sobre isso e me intrometi. Elas disseram que o assistente da CBN passava com o microfone, então esperei o momento. Quando o Gikovate questionou quem faria perguntas, levantei a mãozinha junto com quatro ou cinco gatos pingados. O teatro a essa altura estava lotaaado, mas impressionante como as pessoas são tímidas, preferem escrever as dúvidas no papel, o que lhes dá a segurança do anonimato. Só que aí ele escolhe algumas pra responder e outras tantas ficam sem resposta, como era a queixa das duas mulheres atrás de mim, que nunca tinham seus papeizinhos lidos. Tinha gente de todo o tipo, jovens, velhos, casais, gente feliz, problemática, curiosos, mal amados, intelectuais, humildes, profissionais da área ou não, etc... O doutor apontou pra mim e disse que a “mocinha” (opa, ganhei o dia!) faria a primeira pergunta do próximo bloco. O bloco anterior acabou e nem vi, de repente o assistente me deu o microfone e todos se viraram para me olhar. Ui, bochechas queimando! Me apresentei e lancei a seguinte questão: Quando nos apaixonamos por alguém, nos apaixonamos pelas qualidades e defeitos, pelos aspectos positivos e negativos do outro, pois vem tudo junto num mesmo pacote. Em que momento da relação esses defeitos ou aspectos negativos passam a ter importância, a incomodar? Significa que o amor diminuiu, que a relação está acabando? Bom, a resposta estará no programa de 03/08/10, mas não tenho idéia de quando irá ao ar. Quem quiser, vá seguindo o site da CBN. Foi muito legal, depois houve um link da pergunta seguinte com a minha. Ele é ótimo! Dia 28 vai lançar o livro “Sexo” lá na Cultura às 11:00hs. Cheguei em casa leve, a palestra deu-me uma injeção de ânimo. É bom sair sozinha, eu me curto muito e adoro a sensação de caminhar comigo mesma à noite na Paulista, com aquele friozinho... Dormi bem, não acordei com a tv do vizinho desta vez. Sonhei que tinha uma agulha enorme encravada no pulso esquerdo, o pulso do cisto sinovial (nome pomposo). A agulha tinha uma trava, do tipo trava de anzol, mas mesmo assim minha amiga puxou e conseguiu tirar, só deixando um buracão. Nem doeu. Hoje devo encontrá-la, vamos debater sobre isto e outros assuntos mais. O dia ainda não acabou, provavelmente escreverei ainda. Para o momento é só.

Anto ago/10

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Offline

"Ando meio desligada
Eu nem sinto
Meus pés no chão..."

Cantarolei a canção desde ontem quando saí da aula de karate.
Sim, após um longo período afastada das atividades físicas, comecei a praticar karate e fora a fedentina dos vários chulés (nem tudo é perfeito, mas a gente se acostuma), estou adorando!
Resolução tardia de Ano Novo.
Noite chuvosa, o guarda-chuva aberto, mochilinha nas costas, depois de muitos KIAIs (ai que delícia mandar um KIAAAAIII a cada golpe, é tão... reconfortante...) e de perder alguns gramas e toxinas com o suor, resolvi entrar no super-mercado ali bem no caminho.
Peguei um cestinho, escolhi peras, escolhi gengibre, escolhi tomates, escolhi mexericas, escolhi um pé de alface... bom, o cestinho já estava bem pesado quando me dei conta de um detalhe: a carteira não estava na mochila.
Ainda bem não cheguei a passar a compra no caixa antes de fazer a constatação. Significa que ainda há um lampejo de sanidade.
Comecei a rasgar os saquinhos e recoloquei cada item em seu lugar. Tudo isto sob os olhares desconfiados dos clientes que pela expressão pareciam esperar que eu tirasse um facão da mochila a qualquer momento.
Abri novamente o guarda-chuva e peguei o caminho de volta na noite chuvosa, com os Mutantes na cabeça.

"Olho e não vejo nada
Eu só penso
Se você me quer..."

Adoro essa música!

Anto jul/10