terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Saudade
Saudade
É bela,
Vem ligeira
Me enche de vontade
De ver-te
Abraçar-te
De passar-te toda
Minha singela felicidade
É boa
É pura
Da puríssima verdade
É saudade
Que não tem idade
Ao bravio
E ao ser mais frio
O coração invade
Não morre
Sobrevive hibérnia
Latente
Camuflada em lembrança
No peito de quase criança
À espera de um sopro
Uma pequena chama
A chamá-la linda
E feliz saudade…
Anto 02/11/08
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Morte da poesia
Quem dizia que havia
Num dado instante da vida
Perdido completamente a poesia?
O que ocorreu para que ela lhe fosse arrancada do coração
E arremessada no baú dos tesouros escondidos
Assim como se lança abruptamente
Uma amarga lembrança
Ou um alguém a quem já não nutrimos sequer simpatia?
A veia poética,
Quem a assassinou de uma hora para outra?
Quem disparou o gatilho
Desferindo certeiro tiro
No peito carregado de sentimentos ambiguos?
Quem matou a impetuosidade?
Quem desfigurou os versos?
Qual o crime cometido e o castigo imposto?
Se é que há castigo
Para o delito praticado em razão de si próprio,
Em legítima defesa do corpo que aprisiona a alma…
Não por acaso a fúria é feminina
A ira, idem
E a raiva também.
Assim como a bela inspiração
Que vem avassaladora
Tal como a inundação dos campos nas cheias
Ou a lava expelida pelo vulcão eruptivo
Ou a força desmedida de um tornado nas tardes quentes de verão.
Desastres da natureza.
Natureza selvagem, indomável
É assim que ela é.
Como o carma poético
O sofrer que gera palavras lindas
Mesmo que isso signifique o espicaçar da essência
E o dilacerar da existência
De quem transborda entusiasmo ao compor.
E quem entende essas palavras quase sem nenhum sentido,
Completamente incoerentes?
Quem as alcança são os puros, os excêntricos, os loucos,
Os bravios, os sonhadores, os afortunados de espírito leve,
Os singelos, os humildes, os incapazes de maledicências,
Os insubstituíveis, os únicos…
E a cadência, ela importa?
Não.
Não existe imposição para quem transborda em virtudes
E a virtude, in casu, não significa a moral
Mas o valor humano que existe nas entranhas do espírito
O preciosismo absoluto,
A determinação da luta.
E lutar para quê, se podemos nos entregar
À placidez doutrinal de quem nos diz o que se passa em nossos inquietos corações?
Você me entende?
Não deixe que sua poesia morra novamente.
Não a mate porque aceita a morte como um bálsamo que vem lhe trazer conforto.
Arranque seu coração doente, se preciso,
Porque você ainda tem um bom cérebro, dois perfeitos braços e pernas para o trabalho
Coloque no lugar do vazio em seu peito aquela rosa guarnecida de espinhos
Que você guarda dentro do baú, aquele dos tesouros escondidos.
A gentil rosa será doravante o motor de suas conquistas
Pulsando agilmente para lembrar-lhe que a vida continua
Apesar da morte da poesia
E isso não tem a menor importância
Já que ela é como a Fenix ressurgindo das cinzas
Lembrando que cada dia é diferente e fantástico
E você, cada dia melhor.
Fev.2006
O sofisma
O Sofisma
Doces palavras captam meus ouvidos
Viciados já com elogios e deleites
Que deixam corado o semblante ardido
E bela a expressão, coberta de enfeites
Sofri com isso muitos tolos prejuízos
Aguardando verdades incoerentes
Aparentei insanidade, falta de juízo
Porquanto errava, sofismavelmente
Empurrei a má-sorte para outro lugar
A busca iniciando ao total reverter
Nos versos expliquei a rima matar
Que é o contraposto do verbo morrer
Estamos todos muito necessitados
Saber exatamente de quê somos feitos
Carne e osso, somos assim revelados
Só não exibimos tão bem os defeitos
Por isso o sofisma, opino modestamente
Está bem distante do poder do coração
Ludibriando com o raciocínio demente
Empreendemos assim certa tapeação
Não somos o que na realidade aparentamos
Querendo sempre a todos impressionar
Volta e meia uns aos outros sofismamos
Ou engendramos como fazer a sofismar
Anto 06/09/06
Lágrima
Tão filha única dos olhos
A solitária lágrima vertida
Brota dos confins da anima
Cai ao chão onde está perdida
Salobra a lágrima cristalina
É pura e inspira outros olhares
Há quem observe com paixão
Há quem olhe por curiosidade
Na tristeza ou na felicidade da vida
Acanhada ou totalmente esfuziante
Jaz a lágrima em virtudes esquecida
Plangendo emoções a todo instante.
Anto 04/05/06
Adormecendo
Tenho o sol por testemunha
Claro e intenso como cada manhã
Nada ouço, ainda quieta na penumbra
De minha morada, meu abrigo
Meio adormecida no divã
Olhos fechados, lá fora um pio
Me concentro, preciso voltar a dormir
Retomar o sonho, antes que fique esquecido
Ah, é bom o despertar
Quando se está a sonhar
O belo, o prazeroso
Na quietude do quarto escuro e adormecido
Anto 05/10/06