segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Morte da poesia

Morte da poesia

Quem dizia que havia
Num dado instante da vida
Perdido completamente a poesia?
O que ocorreu para que ela lhe fosse arrancada do coração
E arremessada no baú dos tesouros escondidos
Assim como se lança abruptamente
Uma amarga lembrança
Ou um alguém a quem já não nutrimos sequer simpatia?
A veia poética,
Quem a assassinou de uma hora para outra?
Quem disparou o gatilho
Desferindo certeiro tiro
No peito carregado de sentimentos ambiguos?
Quem matou a impetuosidade?
Quem desfigurou os versos?
Qual o crime cometido e o castigo imposto?
Se é que há castigo
Para o delito praticado em razão de si próprio,
Em legítima defesa do corpo que aprisiona a alma…
Não por acaso a fúria é feminina
A ira, idem
E a raiva também.
Assim como a bela inspiração
Que vem avassaladora
Tal como a inundação dos campos nas cheias
Ou a lava expelida pelo vulcão eruptivo
Ou a força desmedida de um tornado nas tardes quentes de verão.
Desastres da natureza.
Natureza selvagem, indomável
É assim que ela é.
Como o carma poético
O sofrer que gera palavras lindas
Mesmo que isso signifique o espicaçar da essência
E o dilacerar da existência
De quem transborda entusiasmo ao compor.
E quem entende essas palavras quase sem nenhum sentido,
Completamente incoerentes?
Quem as alcança são os puros, os excêntricos, os loucos,
Os bravios, os sonhadores, os afortunados de espírito leve,
Os singelos, os humildes, os incapazes de maledicências,
Os insubstituíveis, os únicos…
E a cadência, ela importa?
Não.
Não existe imposição para quem transborda em virtudes
E a virtude, in casu, não significa a moral
Mas o valor humano que existe nas entranhas do espírito
O preciosismo absoluto,
A determinação da luta.
E lutar para quê, se podemos nos entregar
À placidez doutrinal de quem nos diz o que se passa em nossos inquietos corações?
Você me entende?
Não deixe que sua poesia morra novamente.
Não a mate porque aceita a morte como um bálsamo que vem lhe trazer conforto.
Arranque seu coração doente, se preciso,
Porque você ainda tem um bom cérebro, dois perfeitos braços e pernas para o trabalho
Coloque no lugar do vazio em seu peito aquela rosa guarnecida de espinhos
Que você guarda dentro do baú, aquele dos tesouros escondidos.
A gentil rosa será doravante o motor de suas conquistas
Pulsando agilmente para lembrar-lhe que a vida continua
Apesar da morte da poesia
E isso não tem a menor importância
Já que ela é como a Fenix ressurgindo das cinzas
Lembrando que cada dia é diferente e fantástico
E você, cada dia melhor.


Fev.2006

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