quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Boas Festas!
Acabou 2009, cheio de esperanças que relocamos para 2010.
Vivemos 12 meses tentando cumprir nossas metas e promessas. Algumas cumprimos de fato, outras nem tanto e inúmeras, acabamos colocando de lado.
As desavisadas oportunidades, por sorte conseguimos agarrar no instante em que passavam ao nosso lado, ou simplesmente deixamos escapar porque estávamos ocupados com coisas que julgávamos importantes.
Algumas vitórias, algumas derrotas, outras tantas tristezas e felicidades efêmeras. Tudo isto contribuiu para a dinâmica de nosso 2009.
O NATAL já não tem o mesmo brilho de quando éramos crianças. Mesmo com os milhões de reais gastos nas decorações de ruas e centros comerciais.
O PAPAI NOEL está onipresente em cada shopping da cidade. Figurinha fácil em tempos cada vez mais difíceis.
O MENINO JESUS é cada vez menos lembrado. Pudera, quase não temos tempo entre uma compra e outra. Quem se arriscaria a pensar no aniversariante no meio da 25 de Março?
É salve-se quem puder! Segura a bolsa! VIGIAI!
Quando o PAPA JOÃO PAULO II era vivo, tinha gosto de assistir à MISSA DO GALO. Ao menos tentava, antes de adormecer em frente à tv. Hoje em dia continuo tentando, mas o sono vem mais rápido. BENTO XVI nem é tão pop assim.
O que me faz concluir que carisma é tudo nessa vida. Definitivamente, mais do que qualquer competência, a pessoa carismática já tem uma porta aberta em qualquer situação.
Que o digam os penetras profissionais. Até foto com o não menos carismático OBAMA, NOBEL DA PAZ.
Falando em presidente, claro, não poderia deixar comentar nosso LULA.
2009 foi o ano dele, assim como 2008, 2007, 2006… e todos os outros lá para trás. Até filme ele ganhou. Se emocionou, chorou e bradou à imprensa que o brasileiro está na MERDA.
Está e vai ficar por muito tempo, atolado, ilhado, enganado, usurpado…
Infelizmente, chegamos ao ponto que o MUNDO não tem mais salvação.
Desculpem o pessimismo, mas usamos, abusamos e agora tentamos nos enganar achando que medidas emergenciais reparadoras salvarão o PLANETA, congelarão novamente os pólos, evitarão as catástrofes e a extinção das espécies.
Devíamos ser mais realistas, ninguém quer deixar o conforto de lado, as benesses que conquistou em prol dos outros, sejam homens, animais ou plantas. O ser humano é capitalista pela sua natureza selvagem, já dizia uma música.
A PREVENÇÃO foi deixada de lado e agora o REMÉDIO é amargo e sua eficácia, insignificante.
Bom, antes isso do que nada. Acho que sou politicamente correta, ao menos nas minhas atitudes.
Por isso meu desejo sincero de BOAS FESTAS! E que 2010 seja um ano de PAZ!
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Mulher
Tentei dizer mais de mil vezes
De mil jeitos
De todo o modo
E sem maneiras
Um verbo pouco
Palavra elogiosa
Na nitidez da lembrança tenebrosa
No dialeto profético que um dia se anunciou
Perdido
Em atos falhos
Um eco distendido
Vibrando nas folhas
E elas, uma a uma
Cada uma
Apenas a página de um anúncio qualquer
Visto que sou também mulher
E como tal
Um sopro de vaidade
Mente
Semente
Uma pausa para a razão
Pedaço sumarento
Nobres partes da paixão
Onde não cabem os sensabores
E já não cabe refletir
Anto 1°/08/09
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Páginas
Páginas
Estas são as páginas coloridas do meu caderno em branco
Por onde se precipitam jocosas as letras
E dançam as palavras num silente vadiando
Lambidas as orelhas
Com o volver afoito das alvas folhas
Inevitáveis as dobras marcadas
Violando a pureza
Assinalando os versos que escrevi
E que ainda não havias lido
Dois olhos apenas
Teus semicírculos silentes
A embargar, na beirada de um canto
As páginas que insistem em volta amena
Se amarrotam aos poucos, descompostas
Com os ombros nus e os seios à mostra
Já encardidas
Ao final de leitura
Suave,
Serena dobradura
Anto 24/09/09
domingo, 26 de julho de 2009
Sem perder a pose
Sem perder a pose
Tem gente orgulhosa de proclamar que roda a baiana. Ah, mas estas pessoas são unânimes em afirmar que isto só acontece quando por algum motivo são tiradas do sério. Como se sair do sério fosse a justificativa mais justa (desculpem o inevitável pleonasmo) para os atos insanos que permeariam a tal “roda das baianas”.
A propósito, não sei o que uma coisa tem a ver com a outra. Sempre imaginei uma roda de baianas formada por aquelas gordas e negras senhoras, usando seus trajes branquíssimos, saias rodadas e armadas por camadas e mais camadas de tule, seios fartos saltitando felizes pelos babados dos decotes, a moldura do sorriso franco com o passe-partout dos dentes lindamente perolados, colares de miçangas e patuás, cabelos cuidadosamente escondidos sob os turbantes e as bandejas com acarajé, cocada e outras delícias provenientes de seus tachos e colheres de pau. Tudo na maior tranquilidade.
Será que alguém já as viu se degladiando, dando golpes de capoeira, atirando vatapás e carurus umas contra as outras e resolveu que “rodar a baiana” seria sinônimo de surtos de qualquer ordem?
Vai saber…
Bom e já que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, quase esqueci a que vim.
Típico das mentes fervilhantes de possibilidades. Será este um sério problema?
Não vejo assim, ultimamente ser humano é que é um grave problema. O mais simples hábito, a mais inofensiva mania tem toda uma interpretação psicológica própria.
Se você toma banho uma vez por dia será taxado fisicamente de porco. Em análise psíquica poderia ser considerado depressivo, ou borderline (no limite, está na moda), ou bipolar (também tem seus adeptos). O curioso é que ninguém está interessado em saber se você resolveu fazer a sua parte para economizar a água do planeta. Aliás, se tomou essa resolução com toda a probabilidade será diagnosticado simplesmente louco.
Continuando, se faz três ou mais banhos por dia, tem TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) e é um FDP (sem necessidade de tradução) pois não está nem aí para a extinção dos recursos hídricos naturais do planeta (!) Hum… quem é o louco mesmo?
É por isso que no Brasil foi instituído o número de dois saudáveis banhos ao dia para a maioria da população. Tudo na mais perfeita ordem e progresso. De outro lado, a França continua produzindo os melhores perfumes…
Opa, já me perdi novamente!
Diria que as aparências enganam mesmo. Aquela mocinha de suaves contornos, carinha angelical, cheirosa, carinhosa, de repente pode dar um grito estridente ao seu lado, chamando alguém para pedir uma informação.
Um misto de desagradável surpresa, uma cara de decepção, um indefectível desgosto na alma… e o pensamento fatal de que se isto se repetir será o fim dos tempos. Para ela, naturalmente.
Autocontrole, este é o segredo para não perder a pose.
Devemos ter em mente que estamos sendo observados todo o tempo. É por isto que rodar a baiana não pega nada bem em algumas situações.
Lembrei da Xuxa. Dizem as más linguas que a loira beliscava seus baixinhos durante as gravações dos programas. Imagino a cena, vários endiabrados mirins atormentando a moça que aparece pelada na revista do papai. Meio que “pedindo para apanhar”, os pestinhas acabavam levando estratégicos beliscões. Doía, mas era bom, afinal quem beliscava era uma gostosa que usava micro-saia e botas brancas de salto alto, a qual não posso deixar de imaginar ter inspirado muitos dóceis frequentadores do underground erotopático.
Bom, ela ao menos tentou ficar na moita, mas a intriga da oposição (ah, aqueles seres invejosos e perversos do universo televisivo) trataram de divulgar o controle estratégico aos participantezinhos do programa. E apesar dos pesares, a enxuta senhora resiste até hoje nas telinhas.
Outro jeito de não perder a pose é assumir a forma de madeira. Isso mesmo, os caras-de-pau são mestres nessa arte.
Quando o assunto é polêmico e você não tem coragem de admitir publicamente que já fez exatamente aquilo que está sendo criticado (claro, ninguém quer ser objeto de piada nas rodas de amigos), é bom que comece a recitar mentalmente um mantra para manter as feições inalteradas, com absoluta cara de paisagem. Para ser mais convincente, faça movimentos de concordância com a cabeça, dessa forma as suspeitas recairão sobre o amigo ao seu lado que ficou paralisado e vermelho como um perú assado, o qual estará pensando: “PQP, sei que não estão falando de mim, afinal não faço xixi na calça. Mas então porque raios estou pegando fogo?”
E você, que passou a última noite de São João enchendo a lata de quentão e saltando a fogueira iá-iá/pulando a fogueira iô-iô estará livre de qualquer suspeita.
Como diria Lobão, decadence avec elegance. Mas sem jamais perder a pose, sacou?
Anto 26/07/09
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Os segredos da (aceitável) convivência com as fãs
Dia destes, entre um café e outro e conversas mais que animadas, resolveram lançar na roda um tema polêmico: a arte de conviver entre os seres humanos.
Como é dificil às vezes ter que agradar a gregos e troianos. Obviamente, não podemos simplesmente viver em função dos outros, sejam eles nossos filhos, companheiros ou mesmo os amigos, por vezes espaçosos demais. Mas o fato é que pessoas normais tendem a querer o bem de seus entes e a vê-los felizes, não raro desdobrando-se para tal.
Comigo não é diferente e acredito que com você também não.
Foi quando uma amiga, que já namorou um músico surgiu com o seguinte discurso para justificar o recente rompimento: “Ah, a gente aguenta tudo, mas não dá pra aturar aquelas fãs se jogando em cima do seu amado.”
É claro que essa declaração denota uma réstia de insegurança, mas por razões óbvias não pude deixar de imaginar como é estar em seu lugar.
Fiquei pensando cá com meus botões porque é que as fãs agem assim, “se jogando” e cheguei a algumas conclusões.
1- Fã é como se fosse uma profissão. Ela veste e sua a camisa e portanto se sente com todos os direitos do mundo sobre o ídolo.
2- Fã não quer saber se o ídolo é comprometido ou não, afinal ela está muito além de qualquer nomenclatura sócio/pessoal.
3- Fã se considera a única. É o momento que tem para sentir-se especial e não vai abrir mão dele jamais.
4- Fã sabe que o ídolo precisa dela para existir e para que ela própria coexista.
5- Fã é fiel, segue o ídolo por onde ele estiver.
6- Fã sonha e faz conjecturas hipotéticas a respeito do ídolo, na esperança de que ele um dia a veja com outros olhos.
7- Fã precisa ter um canal de comunicação direto com o ídolo e ela sempre dá um jeito de conseguir.
8- Fã tem o maior orgulho de ser fã e vai dizer de boca cheia para o mundo que é amigona do ídolo.
Como minha amiga não se convenceu da simplicidade da coisa, resolvi mostrar-lhe o outro lado, ou seja, o lado bom que as fãs proporcionam.
1- Fã é como termômetro, quanto mais delas, melhor o ídolo.
2- Fã trabalha de graça, ela não se importa em cuidar da divulgação da agenda, da assessoria e do marketing do ídolo.
3- Fã quer mostrar ao seu rol de amigos como o ídolo é maravilhoso, dessa forma garantindo a agremiação de novas fãs.
4- Fã nem se dá conta de como é boa, afinal os ítens anteriores ajudam a engordar a conta bancária do ídolo pra que ele gaste tudo adivinha com quem?
Conselho valioso para as amigas que (ainda) têm um amado músico/ator/atleta: Cuide bem das fãs de seu querido. Sem elas a vida de vocês dois seria muito monótona. E pobre!
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Limites
Somos as primeiras gerações de pais decididos a não repetir com os filhos os erros de nossos progenitores e com o esforço de abolirmos os abusos do passado.
Somos pais mais dedicados e compreensivos, mas por outro lado, os mais bobos e inseguros que já houve na história.
O grave é que estamos lidando com crianças mais “espertas” do que nós, ousadas, e mais “poderosas” que nunca!
Parece que, em nossa tentativa de sermos os pais que queriamos ser, passamos de um extremo ao outro.
Assim, somos a última geração de filhos que obedeceram a seus pais…
Os últimos que tivemos medo dos pais…
… e os primeiros que tememos os filhos.
Os últimos que cresceram sob o mando dos pais…
… e os primeiros que vivem sob o jugo dos filhos.
E, o que é pior…
… os últimos que respeitamos nossos pais… (às vezes sem escolhas…)
… e os primeiros que aceitamos que nossos filhos nos faltem com respeito.
À medida que o permissível substituiu o autoritarismo, os termos das relações familiares mudou de forma radical…
… para o bem e para o mal.
Com efeito, antes considerava-se um bom pai aquele cujos filhos se comportavam bem, obedeciam suas ordens, e os tratavam com o devido respeito.
E bons filhos, as crianças que eram formais, e veneravam seus pais, mas à medida em que as fronteiras hierárquicas entre nós e nossos filhos foram se desvanescendo…
… hoje, os bons pais são aqueles que conseguem que seus filhos os amem, ainda que pouco os respeitem.
E são os filhos quem agora esperam respeito dos pais, pretendendo de tal maneira que respeitem suas idéias, seus gostos, suas preferências e sua forma de agir e viver.
E que além disso, que patrocinem no que necessitarem para tal fim.
Quer dizer, os papéis se inverteram.
Agora são os pais que têm que agradar a seus filhos para “ganhá-los” e não o inverso como no passado.
Isto explica o esforço que fazem tantos pais e mães para serem os melhores amigos e “darem tudo” a seus filhos.
Dizem que os extremos se atraem.
Se o autoritarismo do passado encheu os filhos de medo de seus pais…
… a debilidade do presente os preenche de medo e menosprezo… aos que nos verem tão débeis e perdidos como eles.
Os filhos precisam perceber que durante a infância, estamos à frente de suas vidas, como líderes capazes de sujeitá-los quando não os podemos conter…
… e de guiá-los enquanto não sabem para onde vão…
É assim que evitaremos que as novas gerações se afoguem no descontrole e tédio no qual está afundando uma sociedade que parece ir à deriva, sem parâmetros nem destino.
Se o autoritarismo suplanta, o permissível sufoca.
Apenas uma atitude firme, respeitosa, lhes permitirá confiar em nossa idoneidade para governar suas vidas enquanto forem menores, porque vamos à frente liderando-os…
… e não atrás, carregando-os e rendidos às suas “vontades”.
Os limites abrigam o indivíduo com amor ilimitado e profundo respeito.”
(Autor desconhecido)
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Meu mundo
Meu mundo
O que há no meu mundo?
Os arbustos
As árvores
Os galhos
As tramas das folhagens
Um totem destoando da paisagem
Um vazio
Um homem à espreita no tempo
Será meu melhor argumento
Para as horas
Poucas horas…
Uma voz
Um calo nas cordas vocais
A impedir vocalizar afinado
Límpido
Sem pressa
O feixe de luz
A cingir os ares
Com sua flecha incendiária
Uma mortalha
O pincel esfumaçando a vaidade
Um vício
Um lamento
A propriedade de quem não se esconde
Na verdade
No medo
Na dor
Os melancólicos dias que parecem não ter fim
Um fim
Um recomeço
Um mim ao qual não pertenço
Nem pareço
Meu mundo mundano
A sensação de entrar pelo cano
Todos os dias, um engano…
Quem sabe?
Anto 15/04/09
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Páginas
Páginas
O som do rabisco a riscar o branco
Rec-rec-rec….
No entanto,
Quase não se ouve mais.
No lugar,
Tec-tec-tec…
Nem o lamber do dedo a dizer
Nem o suave farfalhar a falar…
É como escrevo hoje
Dedilhando apressada as letras no vazio
Na tentativa de dar nexo às palavras
De dar corpo aos pensamentos antes que fujam
Ou se finjam…
Estes, que os olhos percebem
Insanos,
Profanos,
Humanos…
Quiçá venha o dia
Em que as páginas sejam obra de museu
E os textos
Um breve ser e estar
Um laço,
Uma ponte
No branco meu que já foi teu
Anto 09/05/09
terça-feira, 5 de maio de 2009
Gente inconveniente
Pior que os malucos são os inconvenientes.
Meu testemunho? Ah, são muitos…
Como de costume não darei nome aos bois. Se bem que certos indivíduos mereceriam uma boa chamada na chincha, daquelas de ficar pequenininho de vergonha.
Às vezes me questiono que graça teria a vida, não fossem esses seres inconvenientes a nos tirar do sério? Nenhuma, pois quase todo mundo gosta de contar suas desventuras aos amigos, para que eles riam delas junto a nós mesmos. Piada com nome e sobrenome é muito mais legal de escutar.
O já imortalizado BP neste blog é um deles. Melhor dizendo, ele cumula os dois titulos simultanamente. Mero detalhe, vi-o novamente há dois dias, todo empertigado e lançando o manjado olhar 43 para as pernas da praça de alimentação do shopping.
O cara transformou-se no meu “Personal Reflex-Tester Tabajara”, já que tenho que acionar meus impulsos para mudança de direção automática todas as vezes que estou prestes a dar de cara com o figura. Haja adrenalina viu!
Lembro-me daquele vizinho que tarde da noite toca a campainha para pedir um pouco de ração para o bicho de estimação. Inconformado com a negativa (claro, você não tem um bicho de estimação, ao menos não um daquela mesma espécie que a dele e ele sabe muito bem disso), aproveita ligeiro o ensejo:
“ – Ah, é verdade… então me empresta 50 paus?”
Cara, já passei por isso e, acredite, nessas horas é preciso muito sangue frio para dar aquela resposta certeira, sem dó nem piedade:
“ – Me desculpe, vizinho, mas não costumo ter dinheiro sobrando na carteira.”
Uhu! Você conseguiu!
Mas não pense que o cara vai corar as bochechas de vergonha. Pra despistar pede um copo d’água e, ao virar-se para pegá-lo, você ainda sente dois olhos invasivos escaneando todo o ambiente por cima do seu ombro.
Meu Deus! Será que ele viu as moedas jogadas dentro da fruteira?
Então…
Posso dizer que passei alguns recreios da minha vida escondida no banheiro do colégio.
Se aquelas parades falassem contariam toda a minha aflição diária.
Ao menor toque do sinal já estava eu voando pelo corredor para me esconder de um tal que dizia “estar a fim” de mim. E o banheiro feminino era o único local onde ele não tinha acesso e eu me sentia relativamente segura, embora o tal às vezes ficasse de plantão na porta, esperando eu sair. Mas aí tinha a desculpa de ter de voltar para a sala de aula e, ainda bem, ele não estava na minha.
Como fugi daquele menino, coitado dele… Não! Coitada de mim que além de perder os intervalos ainda tinha que aguentar ser zoada por todo mundo, pois o bicho era feio de dar medo.
Os brutos também amam, eu sei. Mas prefiro que amem a outras.
Isso me faz lembrar da frase que minha filha apontou no vidro traseiro de uma Kombi hoje cedo: “Quem gosta de mulher feia é salão de beleza”. Acrescento: cirurgião plástico também.
Acho que esses inventores de frases de caminhão e afins deveriam participar do “O Aprendiz”. Já pensou, concorrer a uma vaga de Diretor de Criação para as campanhas publicitárias do Justus?
Sei que às vezes sou má e nessas ocasiões me aproprio completamente daquela pérola imortalizada por Mae West: “Quando sou boa, sou muito boa, mas quando sou má sou melhor ainda.”
Esse dualismo é muito saudável na minha opinião, pois nos afasta da condição de bananas.
Procuro exercitar toda a paciência do mundo, já que paciência é uma virtude e quero em minha vida ser uma pessoa virtuosa. Sei que isto vale pontos no acerto de contas definitivo, mas é bom que saibam, aqui dentro mora um Mr. Hyde.
Fosse fácil lutar contra ele, eu lutaria. Mas esse Mr. Hyde é um cara inteligente e quase sempre me convence com seus argumentos.
Ele sempre surge nas horas conflituosas de discussões entre a razão e a emoção e com propriedade lança sua sentença, quase sempre baseada nos princípios do “olho por olho, dente por dente” – o que a meu ver é até muito justo.
Vejam só como isto funciona por todo o Oriente Médio desde os tempos babilônicos até os dias de hoje. E há larápios nas imediações? Se há, certamente serão manetas, prova de que o Código de Hamurabi nunca esteve tão na vanguarda.
O último trecho trata de seres alados, que estão por toda a parte. Não, definitivamente não são pássaros, borboletas ou anjos, mas sim insetos.
Já tomou picada de mutuca?
Nossa, isso dói… além de transmitir doenças, claro. Pra quem não conhece o termo, mutuca designa uma das dezenas de espécies de moscas, uma que particularmente persegue animais de sangue quente, dentre eles, nós humanos. Não adianta espantar, sair correndo, gritar com ela, sapatear. A bicha é obstinada e quando está querendo se alimentar não dá trégua, até encontrar um cheiro que a agrade mais.
Bom, não vamos entrar em detalhes biológicos pois moscas são nojentas, na minha opinião. Mas aí entra o conflito, embora inconvenientíssimas, são necessárias pois são também agentes que ajudam na decomposição de matéria orgânico-animal.
É aí que Mr. Hyde apareceria para encerrar o dilema:
“ – Mata! Esmaga! Trucida! Põe fim a esse degrau da cadeia alimentar.”
Opa, assim não dá Mr. Hyde! Matar moscas configura crime ambiental e não sou de agir na ilegalidade.
Mas pensando bem, vamos colocar no condicional: Não sou de agir na ilegalidade, desde que, elas lá e eu cá.
E fim de papo!
Anto 05/05/09
terça-feira, 28 de abril de 2009
Belas pernas - sempre alerta
Com toda a certeza, ser pára-raio de malucos é uma sina. Alguns têm esse dom, ou melhor, azar e isso coloca em pauta o tal do poder de atração tão propagado por diversos autores, recentemente.
Esses caras instituiram um modismo através de releituras romanceadas de teorias sobre a energia do pensamento, misturada à religiosidade e outras forças sombrias que povoam o imaginário humano.
A receita deu certo (cifrõe$) e as fórmulas transformadas em livros, dvd’s e até pílulas, imagino, estão ao alcance de todos os mortais em livrarias, super-mercados, bancas de jornais e lojas de conveniência.
Acho sim que existe algum fundamento já que a fé é um instrumento poderoso tanto para as conquistas humanas quanto para as mundanas.
Mas apenas alguns escolhidos conseguem resposta positiva a seus apelos, o que me leva a supor que o fator sorte é bem mais influente neste mecanismo de atingir os objetivos do que qualquer outro como a força de vontade, o sacrificio pessoal, o estudo, etc.
O injusto é que a maioria dos que têm merecimento não são agraciados com a sorte, mas enfim, isto faz parte dos “mistérios da fé”.
Em outras lições de vida, aprendi que não se deve iniciar uma frase com o advérbio de negação para não afetar o subconsciente. Mesmo consciente de que é intangivel alguma coisa ou impossivel de se realizar uma tarefa, nunca podemos dizer “não posso” logo de cara. O certo seria, “vou conseguir, mas se não conseguir vou tentar novamente”. Ou algo do tipo, ou seja, uma mensagem mais positivista que teoricamente deveria afastar pré-derrotismos.
Recentemente, encontrei aquele fulano ao qual apelidamos “belas pernas” por conta de sua admiração pelas ditas cujas de propriedade de minha amiga. Encontrei, diga-se de passagem, por duas vezes no intervalo de uma semana. Três vezes no intervalo de um mês.
E vai saber quantas mais estive bem perto dele sem saber.
Não existem aqueles sujeitos denominados “ratos de praia”? Pois bem, este aí é o típico “rato de shopping” se é que existe o termo.
Obviamente encontrei e fingi que não vi. Mas observei como quem observa um espécime exótico. Ah, sim, o cara é pra lá de exótico, digno de avaliação comportamental.
Similar a um camaleão, sempre imóvel revirando os olhos para acompanhar o movimento das centenas de pernas que desfilam pelos corredores. Esse critério não é à toa. O predador escolhe os shoppings por serem locais onde por si só já existe uma pré-seleção do especime feminino.
De quebra, é um local fechado, onde a vitima pode ficar circulando por horas, distraída, totalmente vulnerável aos ataques certeiros deste que, até dar o bote, se confunde perfeitamente com uma das pilastras de sustentação do prédio.
A este tipo de encontro premeditado, onde o agente salta do nada e já começa botar banca entregando cartão de visitas dou o nome de azar.
Fato: o azar ronda por aí, na tentativa de envolver os desavisados em seus tentáculos pegajosos, no caso, as desavisadas que transitam pelos shoppings.
E não adianta blasfemar contra o destino.
É por isso que continuo a repetir o lema dos escoteiros “sempre alerta” e olha que às vezes até estando bem alerta o azar consegue enfiar o dedão na nossa sopa.
Anto 27/04/09
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Inferno astral II - a missão
Então tá, finalmente acabou.
Não que tenha sido tão horrivel. Apenas alguns percalços, algumas dúvidas, alguma irritação facilmente atribuivel à boa, velha e eventual tpm. E cá estou nos 42, a meu ver até que bem. Noves fora, o oftalmo deu-me a opção de escolher entre enxergar embaçadinho de longe e visualizar as letras de perto. Preferi a segunda opção, é claro, pois me dá a nitidez necessária para avaliar o que se passa em meu prato de comida. Pois é, agora sou uma mulher madura de verdade, daquelas que põe os óculos para ler a bula do remédio, o rótulo do creme antiidade, as letrinhas minúsculas dos contratos de prestação de serviços. Não que isso represente exatamente uma necessidade, mas é sempre bom saber os efeitos colaterais dos itens que permeiam nossa vida.
Bom, me resta apenas reclamar de algumas dores que insistem em se fazer presentes. Joelhos, costas e a inseparável dor de cabeça que me acompanha fielmente, conforme a orientação genética.
Ô Joana, às vezes me lembro de você e suas mandingas com o vinagre a livrar minha mãe das enxaquecas. Quisera eu tê-la por perto hoje em dia.
Mas não exageremos exageradamente.
Missão cumprida por enquanto, ainda tenho onze meses até o próximo inferno astral.
Até lá, quem sabe arrisco plantar uma árvore.
Anto 24/04/09
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Fiducia
Il filo della speranza
Una tela filata
Ordita
Lavorata con cura
Come tela da ragno
Cosi forte
Dal peso, l’appoggio
Cosi fragile quando vinta
Nel semplice diteggiare
Si va nelle strade del vento
Ad aspettare il tempo
Del riscatto
Si è che c’è tempo
Si è che c’è da riscattare
Anto 13/04/09
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Alforria
Não me preocupo
Em olhar palavras
Em ver do que são feitas as tristezas
Nem sei como acontecem as proezas
Os saltos,
Os tombos,
Os devaneios
Cito as cores
Recordo as alegrias sem pudores
Os belos laços
A dissimular antigos nós
Dos quais desvencilhei-me um dia
Que dia!
O dia da alforria!
Sentei-me ao chão
Assim mesmo
Descalça,
Despida
Com a boca já meio partida
Enfim,
Gritar fazia o maior sentido
E aos pés
Restaram os grilhões como lembrança
A esperar germinasse a semente
Numa folha de verde, a esperança
Ainda que tarde
Mas sem falhar
Anto 31/03/09
Sombras
A matéria porta a sombra
Mostrada pela chama
Ocupa veloz,
Velozmente
Um espaço no vazio
Ao acender de um pavio
Preenchidas de breu
Vão-se as figuras
Insanas
Obscuras
Nas suas viagens migratórias
Pelos arredores das almas
Em sumas esculturas
Ora, te acalmas
Não vale o desespero
Tampouco o destempero
Um reclamo
Ou qualquer ato insano
Pois que vão e vêm
As miragens
Despidas de paisagens
Apenas sombras
Apenas sobras
Anto 13/04/09
terça-feira, 31 de março de 2009
Semelhanças
Era uma manhã, um tanto comum, quase decadente
Daquelas em que se espera muito pouco do dia
Um sono profundo, ao largo, uma cama vazia
Na fronha, lânguida imagem de um beijo caliente
Desorientada pela lembrança tão cara
Os ossos, queixosos, já se ressentem
No espaço que as longas horas desmentem
Os poucos minutos com os quais se depara
A tarde azul, gélida, em via transformada
Rende passos no correr do silencioso caminho
Trôpegos, incautos, ao incessante labor do vinho
Que inicia a travessia um tanto aparvalhada
Ah! Olhos revirados, como estão ao seu redor
Roendo-se, cada qual com uníssono pensar
O calor, um trago, em fartas vias resgatar
O feio e o insano se convertem em esplendor
E assim, meio alegres, recomeçam os instantes
No furor em que bocas se movem desconexas
Em conversas toscas, as frases mal complexas
Diferentes das nossas, não fossem tão semelhantes
Anto 12/06/08
quarta-feira, 25 de março de 2009
Inferno astral
É uma vez por ano. Ufa! Ainda bem.
Calma. Não sou uma aficcionada por astrologia, daquelas que não sai de casa sem conferir o horóscopo. Aliás, mal sei as características do meu próprio signo, touro.
Vamos lá, taurinos são pessoas sensiveis, amantes de coisas belas, mantém os pés no chão, são sensuais por natureza e, acima de tudo, obstinados (sinônimo mais chique para a popular teimosia).
Mas uma coisa eu li e repito pois é a mais pura verdade: Nunca prometa algo a um taurino que não possa cumprir.
Isto seria assinar a própria sentença de morte. Obviamente não cheguemos ao extremo de achar que todo taurino é um psicopata, mas promessa não cumprida equivale a uma mentira e, por consequência, a mentira é uma espécie de traição – o que todo bom taurino não admite, assim como a maioria das pessoas dos 12 signos do zodíaco, imagino.
A propósito da modalidade astral, a palavra inferno remeteu-me a uma lembrança.
Hoje cedo, ao levar minha filha à escola contei-lhe um fato curioso.
Dia desses, no trânsito, reparei na placa de um carro que ia à nossa frente, 6666. Nossa! Ainda comentei com o Marcelo que jamais compraria um carro com essa numeração, quando me dei conta das letras LCF que a precediam.
Credoooo!
L(u) C(i) F(er)… Naquele momento, uma vibração sinistra, um final de tarde entre chuva, alagamentos e trovoadas, um carro cinzento com placas LCF 6666…
Virou a esquina, ainda bem!
Raciocinando friamente, é até uma excelente tática para evitar assaltos ou furtos. Esses meliantes costumam ser supersticiosos, ao avistarem a tal placa duvido que ousassem desafiar a chefia. A não ser que se tratasse de algum patife distraído, mas aí azar dele pois até para delinquir é preciso certa competência.
Tá ligado, mano?
- Mãe, o que quer dizer LCF?
- L de lu, C de ci e F de fer, portanto, lucífer.
- Quem é esse cara?
- Você não sabe? É o satanás, o demônio!
- Mãe, não diga isso tão alto. Assim você atrai.
E lembrei-me dela perguntando outro dia quem era satanás. Continuei:
- Então como você quer que eu diga?
- Diga só demo, bem baixinho.
- Não tem problema, a gente reza e se protege.
- Nossa, mas ele tem vários nomes, né?
- Claro, assim como Deus, vários nomes.
Outra estratégia bastante possível: esquivar-se de multas. De bobo o cara não tem nada. Por mais caxias que seja, estou pra ver amarelinho/marronzinho do CET aplicando multa no motorista do demo. Duvido! Acho que esse nem radar pega.
Mas voltemos ao inferno astral.
É um bom pretexto para atribuir culpas imateriais sobre coisas que dão errado durante esse período. Na verdade, matéria os astros têm de sobra e os físicos diriam massa para comprovar suas existências, ainda que estejam bem distante do nosso mundinho.
Acordar de mau humor seria culpa de quem, não fosse dos astros?
O arroz queimou na panela, o pneu furou, o computador pegou um vírus, a conta venceu, a chuva alagou a cidade mais uma vez… tudo por conta do capricho astral.
O único senão é a quem culpar quando finalmente nos libertamos desse inferno no dia seguinte ao nosso aniversário.
Então, por via das dúvidas, acho que vale um “vade retro satana”, pois como já diziam os sábios, melhor prevenir que remediar.
Amém!
Anto 25/03/09
terça-feira, 24 de março de 2009
Lidando com decepções - a dificil arte de engolir sapos.
Ao longo da vida nos deparamos com algumas centenas de pessoas.
Conhecemos gente nova desde que nascemos, a começar pelos parentes e amigos próximos, nossos avós, tios, primos, vizinhos e assim por diante.
Na escolinha, a primeira fase de interação com seres absolutamente desconhecidos, não raro chegamos a sofrer um pequeno trauma. Afinal é lá que tomamos consciência pela primeira vez de como as pessoas são diferentes umas das outras.
Cada criancinha tem lá seus hábitos, suas manias, vontades e personalidades próprias e nessa fase dificilmente alguma delas será politicamente correta em nome de principios de igualdade e da boa convivência entre os amiguinhos. Por isso são frequentes os tapas, mordidas e palavrões, cujos significados nem ao menos conhecem.
A expressão engolir sapos definitivamente não faz parte dos seus vocabulários e tal metáfora só poderá ser entendida anos depois, quando houver necessidade de ser aplicada e incorporada ao modo de vida de cada um, já que a sociedade é regida por regras e controlada mediante punições.
O que pode e o que não pode em relação ao próximo. Isto era discutido antigamente nas escolas em aulas de Educação Moral e Cívica.
Não sei o motivo, mas esta matéria de extrema utilidade foi suprimida da grade curricular dos colégios, para dar espaço talvez às aulas de informática e educação sexual, ambas já ministradas no ensino fundamental I, hoje equivalente aos anos do nosso antigo primário.
Atualmente parece ser mais importante para crianças de 9/10 anos a navegação na internet e aprender as técnicas de vestir a camisinha em uma banana, do que respeitar ao próximo.
Entretanto, como sou das antigas, julgo que engolir sapos é um mal necessário. Ainda que a vontade seja a de ter um ataque e sair xingando e quebrando tudo pela frente, a civilidade, amizade, razão, bom senso ou qualquer que seja o outro nome dado para o que não podemos fazer em relação ao próximo, nos ensina a exercitar a paciência e a tolerância.
Na minha opinião isso não é cinismo, nem sinal de fraqueza, mas um artificio necessário para evitar o inicio de conflitos que facilmente poderiam transformar-se em guerra.
Com certa frequencia tenho me deparado com pessoas que não merecem tanto sacrificio e os sapos em tais casos tornam-se ainda mais dificeis de engolir e extremamente indigestos.
Aí me pergunto até que ponto é preciso exercer a moral e a civilidade em face da convivência com gente que demonstra total falta de consideração?
Mente quem diz que faz alguma coisa sem esperar nada em troca. A gente sempre espera algo, um agradecimento, um reconhecimento, um sorriso que seja, mesmo em se tratando de uma obrigação a cumprir.
Esperar que os outros ajam como agiríamos certamente será motivo de frustrações e decepções e isto me dá a impressão de que as aulas de Moral e Cívica foram insuficientes e que a melhor politica hoje em dia talvez seja imitar a maioria ligando o botão foda-se, sem a menor dor na consciência.
Anto 24/03/09
sábado, 21 de março de 2009
Nossa colcha de retalhos
Nossa colcha de retalhos
Como se inicia uma história?
Não me refiro àquela história que inventamos, as fixões ou os relatos. Nem às transcrições históricas, os acontecimentos, a saga de um povo, de uma família, o desenrolar de uma trama, o nascimento e morte de alguém. Não cogito uma narrativa novelesca com casamentos no começo, meio e fim. Nem tampouco as inúteis fofocas de salão.
Falo apenas da história, com toda sua singeleza e particularidades que fazem dela única a cada um de nós. Cada capítulo de nossas vidas é um pequeno fragmento que somado a todas as outras histórias do mundo formam uma grande praia, recoberta por seus incontáveis grãos de areia.
Imagino nossas vidas como uma colcha de retalhos. Costuramos um a um para nos aquecermos no frio, para nos protegermos das intempéries e da inospitalidade dos agentes externos.
É com ela que embalaremos o nosso sono. Ela nos cobrirá e quando não estiver cobrindo será apenas o anteparo onde poderemos deitar um pouco, recostar a cabeça no travesseiro enquanto deixamos reflexões invadirem nossas mentes.
Sou daquelas pessoas que costuma ruminar pensamentos. Às vezes me vejo às voltas com lembranças, passagens e acontecimentos, dos mais banais aos sérios, buscando por soluções ou entendimentos de questões que já se tornaram um fato e não podem ser mudadas.
Me pergunto que contribuição poderia dar eu ao mundo?
E chego à conclusão que o mundo é muito extenso e povoado demais para eu poder causar-lhe algum impacto, afinal não sou nenhum gênio da ciência ou das artes, nem tampouco um personagem digno de registro nos anais da história. Minha obra é modesta demais se comparada a de outros reles mortais.
Me limito a escrever algumas linhas que servirão de pouca coisa além do entretenimento de alguns leitores. Mas é nessa pequena interferência que satisfaço meu eu.
Dizem que o homem torna-se um verdadeiro e pleno homem ao executar 3 tarefas durante a vida:
1) plantar uma árvore; 2) ter um filho; 3) escrever um livro.
Não sei exatamente em qual sequencia, mas ao longo de meus quase 42 anos posso afirmar que só realizei inteiramente a segunda empreitada, a qual julgo ser a mais fácil do ponto de vista técnico. Me refiro à facilidade de fazer um filho – por isso mesmo a impressão que tenho é haver muito mais pessoas no mundo do que árvores ou livros – bem diferente de ter um, que nem precisa ser necessariamente do nosso sangue, mas é o resultado de uma escolha e daquilo que somos, do que plantamos e registramos no mundo.
Se vale a metáfora, sou convicta que podemos ser pais tanto de nossos filhos, como também das árvores que plantamos e dos livros que escrevemos, afinal quase todos os processos aos quais nos submetemos são como partos, dolorosos, mas que nos enchem de satisfação.
Plantar uma árvore
É um dom
É desejar estar vivo para aproveitar de sua sombra
É querer colher e comer algum fruto delicioso
É cuidar de algo com o qual não conseguimos interagir
É preocupar-se com a falta de chuva
É esperar a chegada do outono
É observar os passarinhos na primavera
É cuidar de uma vida que não nos pertence
É ver as folhas balançando com o vento
É recostar-se no tronco ao ler um livro
É deitar no chão e observar a copa dançar com as nuvens no céu
É sentir a plenitude da paz
Ter um filho
É obedecer à natureza humana.
É saborear um pedaço de chocolate lambuzado
É acordar todas as noites (várias vezes) pra ouvir a respiração do seu bebê
É rir das caretas
É ajudar nas tarefas da escola
É ouvir o choro do castigo e ficar com remorso, mas manter-se firme
É reclamar da bagunça no quarto
É dar mil beijos sem cansar
É receber um afago no rosto daquela mãozinha pequenina
É se dar conta que o Natal chegou novamente e os anos passam rápido demais
É planejar as férias
É tomar sorvete e sujar a roupa, o rosto, as mãos, os cabelos
É ir no cinema ver todos os filmes da Disney
É pensar no futuro e desejar que ele seja sempre lindo e saudável
Escrever um livro
É uma das tarefas mais difíceis
É uma bênção
É ter a dura missão de transmitir o que sentimos
É dar asas à imaginação
É cultivar excentricidades
É ser poeta
É saber colocar em palavras todos os sentimentos
É desabafar num pedaço de papel todas as dores do mundo
É fazer desenhos geométricos no canto dessa folha, enquanto espera a inspiração
É organizar os mais intrincados pensamentos
É não pensar no sucesso, mas na satisfação pessoal
É ser auto-crítico
É mostrar sua visão do mundo
É ser completamente livre
Anto - abril/2006
terça-feira, 17 de março de 2009
Simplesmente felicidade
Simplesmente felicidade
Feliz de ti,
Feliz como não sei o que
Te ligo
Te digo
Me mostro com a cara mais lavada
E ao pé do ouvido
Já meio ensurdecido
Em fagulhas de um breve arrepio
A empolar a pele
Eriçar os pelos
No deflagrar inquieto dos apelos
Que roubam a cena
E aparentam quase obscenos
Feliz de mim
Felizes de nós
Que contemplados
Desatamos os nós de nossa solidão
Nos mais abundantes beijos
E o que são eles, os beijos?
Os afagos bucais
Orais…
Reais…
Surreais…
Ora somos um,
Ora outro
Vez por outra estamos um noutro
Vez em sempre nos amando
Todas as horas do dia
Neste dia mais feliz
Anto 17/03/09
segunda-feira, 16 de março de 2009
Anatomia
Anatomia
Um corpo duro,
Contraído
Já sem vida,
Nem alma,
Nem nada…
Aberto e mostrado
Em toda sua solidão
Subjugado em sua essência
Exposto em suas reentrâncias
O desgosto saltando pelas vísceras
Amargas
O que é o corpo
Senão o invólucro animado,
A materialização de um pensamento?
Penso,
E assim como concluiu Descartes,
Existo
Sou indivíduo
Sou ser
Sou vontade
Sou libido
Sou o positivo e o negativo
O lado bom e ruim do meu viver
Aqui exibido em detalhes
Conheça-me:
- Mitsuko, muito prazer!
Anto 01/11/08
sábado, 14 de março de 2009
Erros
Erros
Então, erramos de novo
Saímos como da primeira vez
Tortos e sem ar
Incólumes por fora
Destroçados por dentro
Os mesmos erros são difíceis de tolerar
Ferem a ferida que mal tinha cicatrizado
Fazem quase morrer as esperanças
E reavivam as mais tristes lembranças
O reprise daquele velho filme
E se vencemos esse amargor mais uma vez
Não esquecemos de como foi duro
Recomeçar do nada, zerar tudo
Ninguém errou,
Ou erramos na mesma proporção
É tudo igual em nossas vidas
Um dia após o outro
E a noite que se aninha entre eles
A trazer o anonimato na escuridão
Para que não saibamos quem está do outro lado
Sincero perdão, embora doa na alma
A questão é sempre a mesma
Que já tornou-se banal o pedido
Dia desses deixarei passar
Cada pensamento arrependido
Às vezes até revejo fotos antigas
Mas admito, prefiro-as bem longe
No fundo de uma gaveta qualquer
Jogadas, amassadas, ignoradas
Perdidas em seu próprio tempo
Anto 30/04/08
domingo, 1 de março de 2009
O menino
Vida!
Basta que chegue,
Basta um olhar
Aquele abraço terno,
Sincero
Apertado na medida certa
Nem muito, nem pouco
O menino ri,
Sorri,
Corre danado
É vivaz,
É certeiro
(mais um abraço)
Os olhos doces,
(mais vida)
O sorriso aberto,
Verdadeiro
(mais vida)
O menino do bem
Forte,
Alto,
Ligeiro
O menino que bebeu do amor,
Que cresceu do amor,
Que distribui o amor
De graça
Enche de luz até o mais funesto dos ambientes
É o menino abajur,
É o menino holofote,
É o menino astro
Iluminado por si próprio
Deixando leve o denso ar da noite calada
É o menino alado
Que veio do espaço
Menino forte
Feito de aço
(mais um abraço)
Anto 07/04/08
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
O dia da razão
O dia da razão
Haja o dia
Em que agirão em tributo
Festejando insólitos atributos
Por bordões meramente sustentados
Rescindiram-se as amarras
E não existe o dolo
Não há bocas, nem caras
O sentir é que se vai distante
Em horas amargas
Em momentos sós
Onde os laços de sangue
Já não importam
E não se reconhecem
A certeza individua
Aquece as mágoas
Se alonga, se arrasta, perpetua
Nas frivolidades que se criam por hábitos
Maus hábitos, maus costumes
Que o orgulho impõe
Sobrepujando o perdão e a compreensão
Há tantos outros males no mundo
Rondando os incautos
Levando-lhes o vigor e a decência
Enquanto lamentamos
A vil e insana decadência
Que se instalou pesada
Segregando a inocência
De quem ainda não havia
Sucumbido totalmente à maldade
Os pormenores agora me fogem
Quando e onde são questões perenes
Sem começo, meio ou fim
Sem apreço, um talvez, um não, um sim
Venha luz,
Traz-me as marcas no rosto
Ainda quero ter o gosto
De contar cada uma delas
E saber que o espelho mostra
A parte anterior e não as costas
Que recebo de tempos em tempos
Como paga à recusa
De apresentar postura curva
E resignada com os açoites n’alma
Creio ter demonstrado clareza
Não me acabo mais em sutilezas
Nem me cabem mais os sermões
Que tomaram-me as lágrimas doídas
De toda uma lacônica vida
Anto 23/04/08
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Mudos em Veneza
Ciola, Juliana, Nayrob, Vinni, Leticia e eu, filmando de soslaio.
Legal, né?
Saudades pessoal!
Carnevale
É Carnaval em Veneza
Vi Casanova
Em suas andanças por entre as cales
A face branca e afogueada,
Mascarada
O manto negro,
Esvoaçando e se perdendo na bruma noturna
No esconde-esconde de pés afivelados
A passear rumorosos, apressados,
Na ansia do enlace de belas damas, uma a uma
Com a pureza disfarçada sob os vestidos
É Carnaval em Veneza
E no resto do mundo uma certeza
Festa da carne,
Dissimulada alegria
De Arlequinos e Colombinas
A rodopiar pelos salões
Anto 24/02/09
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Identidade
Identidade
Morri!
E nem sei o que foi feito de mim…
Esperei ad infinitum por esse momento
Corri,
Amei,
Pari…
Não fiz nada de que me orgulhasse muito
Embora tudo que tenha feito
Resultou em alguma obra momentânea
Um quadro que mofou na parede da sala
Uma comida que foi comida, digerida
Uma palavra que restou sozinha
Na companhia de seu próprio eco…
Escrevi um livro certa vez
Um livro de muitas páginas,
Todas impublicáveis, porém
De palavras nuas
Estranhas
Quietas…
Palavras que andam
Percorrem os espaços vazios
Onde as almas se alevantam, no ziguezague dos rios
Palavras…
Palavras…
Palavras…
Fui um número
É só o que restou de minha identidade
Deram baixa de mim em algum arquivo, hoje sistema
Não por acaso, agora habito um arquivo morto
Que ironia!
Os frutos que colhi
Comi,
Absorvi
As roupas eu vesti
E despi
O medo eu bebi
E esqueci
De nada adiantou,
Já que morri
Um pouco para ti
E outro para mim.
Anto 20/02/09
O dia em que quase enlouqueci
Não sei se é possível enlouquecer de uma hora para outra. Muito provavelmente sim, nos casos de doenças mentais, herança genética ou ainda algum trauma.
Mas também acho ser possível enlouquecer de felicidade, de cócegas e de saudades.
Prefiro as três últimas opções, já que me são mais simpáticas e aparentemente desencadeiam um enlouquecimento saudável, na minha opinião. Mas tudo com o devido comedimento.
Capítulo I - A felicidade
É tão bem vinda! Torcemos para sermos felizes e desejamos este sentimento aos que amamos. Nem tanto aos que não amamos bastante. Na realidade, a estes ignoro, na medida do possível. Quem é que vai perder tempo e energia para canalizar augúrios de felicidades aos desafetos? Sei lá. Madre Teresa talvez, só que Madre Teresa não tinha inimigos, eu creio.
Obviamente não desejo mal, mas admito uma pontinha de satisfação ante a uma inofensiva desgraça alheia, especialmente nos casos em que se pode expressar um belo e sonoro “bem feito”, comprovando que o mundo gira em torno do próprio eixo e que o castigo chega a cavalo (e às vezes a pé, mas nunca à toa).
Mas saiamos dos parêntesis. É verdade que a felicidade de alguém pode enlouquecer a outrem e aí mora o perigo. Inveja, ciúmes e ímpetos destrutivos… a felicidade tem que saber lidar com esses inimigos, por vezes ocultos num sorriso, num abraço, num beijo de Judas.
Enlouquecer por vivenciar a felicidade é talvez tão destrutivo quanto enlouquecer por vê-la de longe. Como pode um sentimento desencadear duas maneiras completamente opostas de prová-lo?
Então aproveitemos muito bem os momentos felizes quando pudermos tê-los. E sem enlouquecer completamente.
Capítulo II – As cócegas
Se tem uma coisa que me irrita é sentir cócegas. Até que tenho bastante resistência, mas há alguns pontos extremanente sensíveis, especialmente aqueles que minha filha encontra em suas tentativas bem sucedidas para descontrolar a mãe. Uma sensação horripilante, mas que acaba fazendo todo mundo rir muito, seja o autor, a vítima e os eventuais expectadores. Uma dose de braveza é sempre salutar ante a necessidade de pôr ordem no coreto. Chega!
De outro lado, é absolutamente prazeroso fazer cócegas nos outros. Êta prazer mórbido, de um sadismo infantil, se é que isso existe. Daí porque as crianças são verdadeiras experts nessa arte. E elas, depois de praticar com os irmãos, primos e amiguinhos durante toda a infância, passam a torturar os próprios bebês quando adultas, assoprando suas barriguinhas com aquele barulho de metralhadora enquanto os pobrezinhos gargalham nervosamente, quase à beira de uma síncope. A síncope da loucura por cócegas.
Capítulo III – A saudade
E tem a loucura da saudade. Ah, essa é miserável, tem dó!
Começa boazinha, cheia de pudores, nostálgica. Quase como um princípio de dor de dentes, a gente nem se incomoda muito, mas sabe que ela está lá, meditando, respirando e crescendo como uma massa de pão após o fermento e a sova.
De repente parece ficar mais viva, mais concreta, mais presente. Então já não sabemos se cortamos o mal pela raiz, na cadeira do dentista ou esperamos pra ver se passa sozinha, o que seria muito mais gostoso e econômico.
Dessa forma concluo que a saudade não deve ter prazo de validade e a escolha é nossa. Ou aceitamos vivê-la, arrumamos um lugar quentinho e aconchegante para que ela envelheça ao nosso lado ou podemos dar-lhe um beijo de despedida, agradecer pelos bons momentos e pedir desculpas por qualquer coisa.
Como sou meio do contra e não gostei de nenhuma das alternativas acima, minha opinião é que podemos guardá-la numa caixa dentro da última gaveta da cômoda, junto a fotos antigas e outras relíquias. Podemos esquecer temporariamente dela, pois temos a certeza de que estará lá, como um backup. Quando pipocar alguma lembrança, basta uma espiada rápida, um chorinho talvez e pronto. Revisitar as memórias e um pouco de saudosismo de vez em quando é tão bom…
Só não dá pra casar com a saudade, isso sim seria de enlouquecer.
Anto 17/02/09
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Texto Martha Medeiros - Miss Imperfeita
Sou a Miss Imperfeita, muito prazer!
Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas! E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria
modelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.
Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.
É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias!
Tempo para uma massagem...
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir.
Desde que se lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela..
Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'.
(Martha Medeiros)
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Dizes porque te amo
Dizes porque te amo
Calei-me na voz,
Quase embargada
Que elevou-se no calor de um fim de dia
Um salto,
Uma quentura que brotou trotando do estômago
A pôr terra
A pôr humus sobre as sementes
Quisera, pois,
Quisera
Tratar-se de um horto ou de uma vinha
Mas não era…
Nem terrena, nem marinha
Nem a causa era daninha
E digas
Ou te cales
Mas não penses,
Não penses muito pois às vezes
O pensar é terreno fértil
E alimenta o desgosto
Digas se está a teu gosto
A minha vida,
A minha história,
A minha memória
Quem sou, existe aqui e agora
Os porques do meu amor
Não se expressam
Nem convergem
A uma explicação simples e barata
Não é à toa
Eu respiro,
Existo,
Sinto
Não é à toa…
Anto 15/02/09
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
O Bento
E alguém chegou
Trazendo aos ombros o fardo da saudade
Uma que nem sequer sabia ter…
Nem eu.
Imagina!
Viu num retrato
Naquela antiga foto de menina
A mulher de hoje
Igual no sorriso,
Do jeito e dos trejeitos,
Ao brejeiro ataque de riso…
Já me conheces tanto
Como às vezes nem eu mesma
Entendo ser possível.
E naqueles idos e vindos do colégio
Quem haveria de pensar
Que após tantas reviravoltas
Bastaria um instante em nossas vidas…
O tempo de um sorvete,
Uma volta e meia pelo parque,
As cartinhas do nosso amigo adolescente
E as lágrimas vertidas em função não de tristezas
Mas de nossas felizes gargalhadas,
Que não davam conta de tantas memórias.
Revelada,
Restou apenas a certeza
De que trouxemos conosco as histórias
Levamos adiante os destinos,
E num golpe de extrema sorte,
Após o tempo,
Que pareceu tão rápido quanto infinito
Ainda podemos conduzi-los nas mãos.
Anto 03/02/09
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Sem título
Aconchego
Foi-se
Em turbulenta tempestade
Que toda a insanidade
Minha, só minha
Fez-me ainda melhor
De ruim teve esse gosto
Um resquício de desgosto
Deixado do lado de fora
Claro,
Sinto-me só
Desprotegida das asas do aconchego
Afastada do teu ninho
No qual sempre estive quieta
Para não despertar os maus espíritos
E tu?
Te sentes protegido?
Ou foi-se, também banido,
Acompanhado pela tua solidão?
Ora,
Cada qual segue um caminho
E a busca uma hora cessa
Sem que necessária seja a pressa
De encontrar outro bom lugar para estar
Anto 03/11/08
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Minha casa
Minha casa
Antigas venezianas
Batendo contra o batente
Ao sabor do sopro, um vento sul
Inesperado
Quando o caprichoso céu,
Inalterado
Retinto de um tal cinzento-azulado
Se reveste com pesadas nuvens
Pairando ao acaso no telhado vermelho-limo
A prenunciar o choro das estrelas
Logo mais, no ângulo das cumeeiras
Que convidam ao silencioso andar felino
Observo quieto
Minha casa de branco vestida
A casa onde vivi o nascer
E passei uma feliz e completa vida
A brilhar com a chuva que lhe cai aos ombros
E sacolejar de leve quando os raios riscam o céu
Explodindo em luminosos estrondos
Enquanto as quatro paredes conversam entre si
Erguida, permanece fincada ao chão
Escutando a pingadeira a receber chuva fresca
Nestes abrasadores dias de verão
Anto 26/12/08
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Primeiro dia de 2009
Na última meia hora de 2008, depois dos cochilos devidamente interropidos pela contagem regressiva nem um pouco comedida de minha filha ao pé do meu ouvido, acordo sobressaltada com um telefonema da Bahia, de qualquer canto próximo da Praia do Forte que não cheguei a entender por razões óbvias.
Ao fundo, um som de ilê-ayê misturado ao axé “de” Chiclete, burburinho e risadas ao fundo, mal se escutava quem estava do outro lado.
Então um Feliz Ano Novo adiantado, porque depois da meia-noite seria impossível.
Ok, valeu bichinha, ou bichinhos, que estavam lá reunidos para pular as tais sete ondas, acender suas velas e jogar rosas brancas para Iemanjá.
Bons pedidos, boas vibrações para o novo, em meio aos agradecimentos pelas boas coisas do ano velho.
Que bom, alguém pensa por mim, fico tranquila, sossegada, me sentindo segura e amada.
Nesse meio tempo, no embalo daquele pré-soninho, 3-2-1 e… fogos!
Dormir é missão impossível, mas quem é que manda ter sono justamente na passagem de ano?
Calma aí que não sou esquisita, nem neurótica. Sono para mim é um bem precioso, só isso.
Hoje cedo, porém, já consegui retribuir os três votos mais importantes e é isso que importa. Renovar todos os dias, com fervor e amor no coração.
Partindo do princípio que os rituais são necessários, mas não me levam ao fanatismo propriamente dito. Falhei no meu tradicional adeus ano velho, mas sem peso na consciência. Compensarei de outro modo.
De outro lado, as origens sempre inspiradoras pedem seu registro.
Então, querida Pat, como atividade de início de ano, dei aquela espiada no seu blog e descobri uma preciosidade a qual peço licença para trancrever aqui pois a informação nunca é demais.
Apesar da mistureba do sangue, um fato muito relevante para mim é que nasci sob os auspícios do Bonfim, portanto me sinto agraciada pelos bons ares da terrinha.
Segue abaixo um pouco do baianês, lingua oficial da Bahia (http://desciclo.pedia.ws/wiki/Baian%C3%AAs-Soteropolitano)
No mínimo interessante. Muito massa!
A pronúncia
Ao contrário do que muitos pensam, o Baianês não é falado lentamente, mas sim cantando. Não existe o gerúndio, mas sim o gerúnio: o "d" no "-ndo" é excluído, o que resulta em falano, correno, ao invés de falando ou correndo.
Em baianês, uma frase nunca é concluída. Existem alguns verbos novos, como "bora" ou apenas "bó", que significa "vamos" (acompanhe a evolução: originalmente "vamos em boa hora" - "Vamos embora" - "Vumbora" - "'Bora" - "Bó") e também pode ser dito em forma repetitiva-poética como "borimbora" ("Vumbora embora") . Os exemplos abaixo só corroboram que existe uma capacidade inata no baiano em poupar energia. O caso clássico consiste na evolução do "Vossa Mercê" em "Vosmissê", após no já comum "Você", então no atualmente utilizado "Cê" e já foram encontrados casos de comunicação natural através do "Rummm" (som de grunido).
Algumas frases cotidianas
"E aí sacana?!" - Olá amigo.
"E aí carniça?!" - Olá amigo.
"Colé, meu bródi!" - Olá, amigo.
"Colé, miserê!" - Olá, amigo.
"Colé, meu peixe" - Olá, amigo.
"Colé, men!" - Olá, amigo.
"Diga aê, disgraça!" - Olá, amigo.
"Digái, negão!" - Olá, amigo. (independente da cor do amigo)
"E aí, viado!" - Olá, amigo. (independente da opção sexual do amigo)
"E ae, meu rei!?" - Olá amigo.
"Ô, véi!" - Olá amigo.
"Diga, mô pai!" - Oi para você também, amigo!
"E ai, miserê!" - Olá, amigo!
"ÊA!" - Olá, amigo.
"Colé de merma?" - Como vai você?
"É niuma, miserê" - Sem problemas, amigo.
"Relaxe mô fiu" - Sem problemas, amigo.
"Beléssa negáun" - Sem problemas, amigo.
"Cê tá ligado qui cê é minha corrente, né vei?" - Você sabe que é meu bom amigo, não é?
"Bó pu regui, negão?" - Vamos para a festa, amigo?
"Aí cê me quebra, né bacana" - Aí você me prejudica. Não é, amigo?
"Aooonde!" - De modo nenhum!
" Coleh, minha força?? ! - Como vai, amigo?
"Quem é doido?" - De modo nenhum!
"Aquele viado vive filando aula" - Aquele menino vive cabulando/faltanto a aula
"Vô ali ni umaz i ôta martigá um negocíum" - Vou na residência de uma mulher, em visita de caráter libidinoso.
"Vô quexá aquela pirigueti" - Vou paquerar aquela garota.
"Vô dirrubá aquela piveta" - Vou paquerar aquela garota.
"Vô cumê água" - Vou beber (álcool).
"Colé de merma ?" - O que é que você quer mesmo? (Caso notável de compactação!)
"Eu tô ligado que cê tá ligado na de colé de merma" - Estou ciente do seu conhecimento a respeito do assunto.
"Aquele bicho tira uma onda da porra". - Aquele sujeito é um fanfarrão.
"Tá me tirando de otário é?" - Está me fazendo de bobo?
"Tá me comediando é?" - Está me fazendo de bobo?
"Tá me tirando de mueda de 10 centavos?" - Está me fazendo de bobo?
"Se plante!" - Chamada ao combate físico
"Vô meté mão" - Avisando que vai bater
"Se bote ae, vá!" - Chamada ao combate físico
"Eu me saí logo" - Eu evitei a situação.
"Brocar" - Se sair bem em algo, realizar algo com sucesso.
"Shhh...Ai, mainhaaa" - Até hoje não se sabe a tradução. Sabe-se apenas que nas músicas de pagode, o vocalista está excitado com sua respectiva amante.
"Oxe!" - Todo baiano usa essa expressão para tudo, mas um forasteiro nunca acerta quando usa.
"Lá ele!" - Eu não, sai fora, ou qualquer outra situação da qual a pessoa queira se livrar.
"Lasquei em banda!" - meteu sem dó nem pena.
"Biriba nela mô pai" - Manda ver! (no sentido sexual da coisa)
"Ó paí ó" - Olhe para aí, olhe! - Essa espressão foi utilizada pela primeira vez pelo capitão português Manoel da Padaria a frente da Nau Bolseta, que por infortúnio (leia-se burrice) perdeu-se da frota portuguesa no caminho para as índias e veio parar na Bahia. Desde então foi resgatada pelo povo baiano, assíduo leitor de Camões, já que trata-se de um texto apócrifo d'Os Lusíadas, que nem os portugueses sabiam (Nenhum jamais concluiu a leitura do clássico). É muito usada por aqui, tanto que virou filme, peça teatral, música, marca de refrigerante, água de coco, barzinho, cerveja, igreja...
"Num tô comeno reggae!" - Não estar acreditando ou dando muita importância.
"Num tô comeno reggae de (fulano)!" - Não estar com medo de provocação/ameaça de (fulano)
"Me faça uma garapa!" - Me poupe
"É o que rapaz?? " - Expressa surpresa, indignação
"Cê sabi que eu num como esse agá" - Não estar acreditando ou dando muita importância.
"Tome na sequencia misêre" - Tomar o troco de algo ruim que você fez
"Vou abrir meu gás" - Vou embora
"Eu quero prova e R$ 1,00 de Big-Big!" - O mesmo que a expressão acima. O "Big-Big" é um chiclete muito valorizado por pessoas de todas as classes.
" O reggae foi massa!" - A festa foi boa
" Cê é abestalhado é, vey? " Você é bobo é, rapaz?
"Namoral, vey...se saia aew" - Sai daqui, agora
"Uisminoufai!" - Bebiba mais conhecida como "Sminorff Ice". Também é uma música do grupo de pagode (desta mesma terra) chamado "Pagod'art".
"Deixe de onda, vey!! " - Deixe de frescura
"Deixe de viadagi"- Deixe de frescura
"Mininu, num bata nos filhu duzôto" - Filho, não bata no filho dos outros
" Vou ali armar um esquema" - Ir paquerar, ou fazer algo que não se possa comentar
"Sai do chão!" - Frase típica e predileta das bandas de axé. O intuito da mesma é de que indivíduo se agite e curta o som tocado em questão.
"Rumaláporra!" - Agir violentamente contra alguém ou algo.
"Porra!" - expressão de surpresa
"Pooorra!" - expressão de admiração
"Porra!" - expressão de raiva
"Porra!" - expressão de alegria
OBS - Existem mais de 5000 diferentes usos para o verbete "porra" em Salvador incluindo nestes o uso do "porra" como uma vírgula, no caso da frase: "... mas porra tava dificil cuma porra".
"Vey!" - usado para chamar a atençao da pessoa com quem está falando.
"Veey" - aviso para alguém ter cuidado com algo.
"Veeey!" - expressa de discordância.
"Veeeey!" - expressão de surpresa.
"Veeeeeey" - expressão de facinio.
OBS - Existem mais de 10000000 diferentes usos para o verbete "vey" em Salvador.
"Vou pica-le a misera" - Agir violentamente contra alguém ou algo.
"Picá a porra!" - Agir violentamente contra alguém ou algo.
"Rumaládisgraça" - Agir violentamente contra alguém ou algo.
"ei, ó o auê aí ô" - tida como unica frase universal a utilizar apenas vogais e ter sentido completo, significa 'parem de baderna.'
"Bó batê o baba" - Chamar os amigos para uma partida de futebol - O "Baba" subentendido é um esporte similar ao futebol,com algumas diferenças: a bola por exemplo pode ser qualquer tipo de material esférico, que vai desde cocos(fruta tipica) até tua mãe. O lugar onde irá acontecer o baba preferêncialmente tem que ser uma área retangular-plana, mas como isso é raro em Salvador(a não ser nos prédios da Pituba) qualquer lugar serve!
"Bó pro reggae" - Chamar os amigos para a balada
Salvador é também conhecida por ser uma cidade cujo dialeto deu um LAR aos mais diversos impropérios do cancioneiro popular local, possivelmente você um dia já foi convidado a visitar "A casa da porra", "a casa do caralho", "a casa da desgraça"!
Lá também existe a "Casa de Noca" que ninguém sabe onde fica, mas sabe-se que lá sempre o "couro come".
"Peguei uma Ponga" - Pegar carona, embarcar na idéia de alguém, pegar ônibus ou trem em movimento
"Hoje eu to na bruxa" - Hoje eu to muito loco
"Num sei que, parará, caixa de fósforo" - Quando se quer dizer etc. Ex.: "Aquele fila da puta do Janescro, disse que fez, aconteceu, num sei que, parará e caixa de fósforo com Edilene."
" Ô injura, vá ali no Bompreço" - Por favor filhinho, você pode ir no mercado?
"Fulano é um Zé ruela" - O cara é um babaca
"Deixe de chibiatagem" - Pare com essas atitudes frescas
"Tomo o Bob Nelson" - Ato de ser traído, trocado por outra pessoa com interesses sexuais
"Na mão grande" - Algo feito com poucos recursos, na marra
"Feito a culhão" - Algo feito com poucos recursos, na marra
"Recebi Foi a Galinha Pulando" - Problema ou situação inesperado de alto grau
"Rapaz, nem fudeno" - Não farei algo ou irei para lugar algum
"Quem vai é o cuêio" - Espressão para "Quem vai e o coelho"
"Cê vai cai no pau mermão!!" - Você vai apanhar cara!
"Bó vazá véi" - Vamos embora
"Deu um pé de pica da porra!" - Deu uma grande confusão
"Me tire de pobrema, vu!" - Não me envolva nisso!
"Parta a mil, parta vuado!" - Expressão que denuncia situação periculosa e inesperada.
"Vou chamar minha barrera" - Vou chamar meus amigos.
"Vô pegá a pista" - Estou indo embora.
"Vô pegá a BR" - Estou indo embora.
"Que porra é essa?" - O que é isso?
"Porra ninhuma" - Expressa dúvida sobre determinado assunto.
"Sai daí Fulera(o)" - Você esta errada amiga!
"Sei lá de quê" - Complementação de um caso
"Sai de bolo que você não é fermento" - Não se envolva porque você não tem nada a ver com isso.
"Dei o zignau" - Faltei a um compromisso ou contornei uma situação desagradável.
" Toma essa sopa de garfo" - problema inesperado
"Dei um ninja" - Escapei de um compromisso ou algo desagradável.
"Joguei" - Desferi um soco.
"Si jógui" - Enfrentar alguem.
"Vista sua roupa de macaco e dê seus pulo" - O problema é seu.
"Pô véi, tô in aguas!" - Poxa amigo, estou alcoolizado!
"Rapaiz!!!" - Que legal!!!
"Rapaiz!!!" - Será?
"Rapaiz!!!" - Entenda!!!
"Rapaiz!!!" - Não sei não...
"Rapaiz" - Pode ser usado como ameaça.
OBS - Existem mais de 10000 diferentes usos para o verbete "Rapaiz" em Salvador.
"Vou batê um banho" - Vou tomar banho.
"Essa bóia tá gostosa pra daná" - Esta comida está deliciosa.
"Tô tranpanu como quê" - Estou trabalhando muito.
"De oooooooooouji!" - Expressão dita estalando os dedos e balançando a mão, referindo-se a algo acontecido há muito tempo.
"Viu sacana? u-um!" - Expressão usada para afirmar quando algum indivíduo faz alguma ação infeliz, ou sofre algum impecílio (Equivalente ao "Aí ó!Se fudeu").
"Vo mi imbora pa Sum Paulo" - Futuro frequentador do Patativa e do " Shoppis " Interlagos ou Intercoco!!
"Fui Mandar o Telegrama" - Fui Defecar
"Bó Pu Xopis?" - vamos ao shopping
"Bó Pu Iguat (ou Iguatz) " - vamos ao Iguatemi (shopping)
"Bó Pu Ssa" - vamos ao Salvador Shopping
"Simbó cumpadi" - vamos
"Ô minha cumadi?" - que negocio é esse?
"Ói" - OLHE
"Fui comprar uns bagulho ai" - fui comprar umas coisas
"Colé baêa?" - iai amigo (independente do time ou as vezas colé vitoria mais baêa é o tradicional)
"Diga ai mãe" - e ai amiga
"Pô pai" - pô cara,amigo...
"Feche sua cara" - não se exiba
"Feche sua cara" - me respeite
"Se respeite" - Me respeite
"Vai descer hoje?" - Vai a tal lugar hoje?
"E ai piri?" - Oi amiga!
"De boa!" - Ok, tudo certo.