O dia em que quase enlouqueci
Não sei se é possível enlouquecer de uma hora para outra. Muito provavelmente sim, nos casos de doenças mentais, herança genética ou ainda algum trauma.
Mas também acho ser possível enlouquecer de felicidade, de cócegas e de saudades.
Prefiro as três últimas opções, já que me são mais simpáticas e aparentemente desencadeiam um enlouquecimento saudável, na minha opinião. Mas tudo com o devido comedimento.
Capítulo I - A felicidade
É tão bem vinda! Torcemos para sermos felizes e desejamos este sentimento aos que amamos. Nem tanto aos que não amamos bastante. Na realidade, a estes ignoro, na medida do possível. Quem é que vai perder tempo e energia para canalizar augúrios de felicidades aos desafetos? Sei lá. Madre Teresa talvez, só que Madre Teresa não tinha inimigos, eu creio.
Obviamente não desejo mal, mas admito uma pontinha de satisfação ante a uma inofensiva desgraça alheia, especialmente nos casos em que se pode expressar um belo e sonoro “bem feito”, comprovando que o mundo gira em torno do próprio eixo e que o castigo chega a cavalo (e às vezes a pé, mas nunca à toa).
Mas saiamos dos parêntesis. É verdade que a felicidade de alguém pode enlouquecer a outrem e aí mora o perigo. Inveja, ciúmes e ímpetos destrutivos… a felicidade tem que saber lidar com esses inimigos, por vezes ocultos num sorriso, num abraço, num beijo de Judas.
Enlouquecer por vivenciar a felicidade é talvez tão destrutivo quanto enlouquecer por vê-la de longe. Como pode um sentimento desencadear duas maneiras completamente opostas de prová-lo?
Então aproveitemos muito bem os momentos felizes quando pudermos tê-los. E sem enlouquecer completamente.
Capítulo II – As cócegas
Se tem uma coisa que me irrita é sentir cócegas. Até que tenho bastante resistência, mas há alguns pontos extremanente sensíveis, especialmente aqueles que minha filha encontra em suas tentativas bem sucedidas para descontrolar a mãe. Uma sensação horripilante, mas que acaba fazendo todo mundo rir muito, seja o autor, a vítima e os eventuais expectadores. Uma dose de braveza é sempre salutar ante a necessidade de pôr ordem no coreto. Chega!
De outro lado, é absolutamente prazeroso fazer cócegas nos outros. Êta prazer mórbido, de um sadismo infantil, se é que isso existe. Daí porque as crianças são verdadeiras experts nessa arte. E elas, depois de praticar com os irmãos, primos e amiguinhos durante toda a infância, passam a torturar os próprios bebês quando adultas, assoprando suas barriguinhas com aquele barulho de metralhadora enquanto os pobrezinhos gargalham nervosamente, quase à beira de uma síncope. A síncope da loucura por cócegas.
Capítulo III – A saudade
E tem a loucura da saudade. Ah, essa é miserável, tem dó!
Começa boazinha, cheia de pudores, nostálgica. Quase como um princípio de dor de dentes, a gente nem se incomoda muito, mas sabe que ela está lá, meditando, respirando e crescendo como uma massa de pão após o fermento e a sova.
De repente parece ficar mais viva, mais concreta, mais presente. Então já não sabemos se cortamos o mal pela raiz, na cadeira do dentista ou esperamos pra ver se passa sozinha, o que seria muito mais gostoso e econômico.
Dessa forma concluo que a saudade não deve ter prazo de validade e a escolha é nossa. Ou aceitamos vivê-la, arrumamos um lugar quentinho e aconchegante para que ela envelheça ao nosso lado ou podemos dar-lhe um beijo de despedida, agradecer pelos bons momentos e pedir desculpas por qualquer coisa.
Como sou meio do contra e não gostei de nenhuma das alternativas acima, minha opinião é que podemos guardá-la numa caixa dentro da última gaveta da cômoda, junto a fotos antigas e outras relíquias. Podemos esquecer temporariamente dela, pois temos a certeza de que estará lá, como um backup. Quando pipocar alguma lembrança, basta uma espiada rápida, um chorinho talvez e pronto. Revisitar as memórias e um pouco de saudosismo de vez em quando é tão bom…
Só não dá pra casar com a saudade, isso sim seria de enlouquecer.
Anto 17/02/09
AMOR FELIZ
Há 5 anos
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