domingo, 19 de outubro de 2008

Aulas particulares e inundação I

Aulas particulares e inundação I

Voltando alguns anos, início da década de 80 (já deu pra perceber o quanto sou saudosista?), uma adolescência que passou rápida para todo mundo, hoje está bem fresca e presente na minha memória, pois tenho a sorte de poder relembrá-la todos os dias com pessoas queridas que conheci naqueles tempos.

Então, além das lembranças, vamos às confissões. Tá curioso/a?
Quem estudou no São Bento deve se lembrar de um colégio tradicional, naquele tempo recém admitindo a matrícula de mulheres (até 70 e poucos era um colégio só para meninos) e por isso mesmo as meninas eram poucas e disputadas entre os rapazes por meio de apostas.
Bom, não vou entrar em detalhes sobre isso porque não vem ao caso aqui.
O que eu quero é fazer um relato confitente. Mea culpa! Mea culpa e de Cristina também.
Quando o Papa esteve aqui no ano passado e ficou hospedado no São Bento, fiquei lembrando de algumas passagens que vivemos lá dentro daqueles corredores que conheciamos tão bem.
Revi pela tv os jardins que admirávamos dos janelões que davam para o páteo interno da residência dos padres. Era um jardim de passagem, contemplação e oração, com suas flores e gatinhos. As meninas eram proibidas de entrarem lá, assim como na clausura. Só nos restava espiar pelas janelas ou através das frestas dos portões sempre trancados. Víamos o varal improvisado nas janelas dos quartos dos padres, secando os cuecões samba-canção.
Acho que admitir mulheres causou muito rebuliço no colégio.
Éramos na maioria meninas de família e também uma ou outra de natureza mais avançada que se destacavam entre os alunos.
Logo no primeiro dia de aula no novo colégio conheci Cristina.
Ficamos amigas e não nos desgrudávamos. Éramos ambas meninas de família e por isso mesmo, acima de qualquer suspeita.
Depois do terceiro ano na mesma classe, já nos sentíamos entediadas e sempre que podíamos aprontávamos alguma.
Tudo começou quando inventamos que precisávamos de aulas particulares em física. Bom, realmente precisávamos, mas resolvemos contratar como professor um aluno cdf da outra classe. Ele, com muito boa-vontade concordou em nos dar aulas durante os intervalos do horário da tarde. Naquele tempo ficávamos o dia todo no colégio, três vezes por semana e tinhamos bastante tempo ocioso por lá.
O local escolhido para essas aulas foram as escadarias do último andar da torre que dá acesso à capela do colégio, aquela onde o Papa foi rezar a missa para os beneditinos.
As aulas começavam assim:
- Onde estão os cadernos?
- Não temos cadernos.
- Como assim?
- Prestamos bastante atenção nas aulas e não anotamos nada. Depois copiamos as lições dos amigos.
- Mas como vou ensinar se não têm cadernos?
Nesse momento, um grito e um desmaio.
Cristina me chacoalhava, o rapaz em pânico, branco de medo. Aí de repente, ressuscito em meio a gargalhadas. O menino, agora vermelho de raiva, pega suas coisas e vai embora enquanto nos esborrachávamos de rir caídas pelas escadarias.
No outro dia, juras de perdão, promessas de levar os cadernos, pedidos de uma nova chance. E lá íamos novamente para as aulas particulares de física com nosso colega cdf. Tudo começava muito bem, com seriedade, mas no decorrer das aulas algum súcubo saltava em nossos ombros e nos espetava com seu tridente em brasa. Pronto! Era uma questão de trocar olhares e estava feita a sandice, novos desmaios e olhares de estarrecimento.
- Dessa vez é de verdade, ela passou mal, acode!
E dali uns segundos, novamente as gargalhadas. Claro, depois do terceiro desmaio perdemos nosso professor de vez. Alguns anos mais tarde o encontrei na saída de um show. Chamei-o, mandei tchauzinho, mas ele virou a cara e fingiu não me conhecer. Bem feito pra mim!

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