Aulas particulares e inundação II
Resolvi quebrar a história em duas partes pra não ficar muito longa. Mas precisa haver o link pois o segundo tomo aconteceu em consequência do primeiro.
Depois da derradeira aula particular e do definitivo pedido de demissão do nosso professor-aluno, precisávamos encontrar algo para descarregar as energias em ebulição.
Achamos que deveríamos rezar um pouco, nos redimir dos pecados que havíamos cometido. Já que estávamos um andar abaixo da capela, subimos, na tentativa de nos penitenciar com São Bento.
Não me lembro se a capela estava aberta ou trancada, mas uma coisa nos chamou a atenção do lado de fora, um equipamento interessantíssimo chamado hidrante. Dentro da portinhola de vidro, aquela mangueira enrolada foi um convite para nossa curiosidade científica.
Opa, o hidrante não estava trancado e assim tivemos livre acesso a ele. Dessa vez, movidas pelo impulso incontrolável de dezenas de pequenos súcubos (ai meu Pai, perdão!), desenrolamos a tal mangueira inteirinha e ainda abrimos o registro.
Tivemos medo (claro) da pressão, por isso a cautela de não abrir demais, apenas o suficiente para ver um fio de água começar a escorrer pela escadarias.
Descemos em silêncio. Na manhã seguinte, fomos surpreendidos com a visita do diretor e de um professor na sala de aula. Vieram dar a notícia que o colégio havia sido inundado por “vândalos”. No período noturno funcionava a faculdade Tibiriçá nas dependências do colégio e foram eles a sofrer as consequências da nossa traquinagem.
Descemos em silêncio. Na manhã seguinte, fomos surpreendidos com a visita do diretor e de um professor na sala de aula. Vieram dar a notícia que o colégio havia sido inundado por “vândalos”. No período noturno funcionava a faculdade Tibiriçá nas dependências do colégio e foram eles a sofrer as consequências da nossa traquinagem.
Feitas as devidas ameaças de suspensão, expulsão, etc à nossa classe e ao restante do colégio, começou o burburinho e especulações sobre quem teria feito o tal vandalismo. Muitos dedos apontaram para Renato, considerado aluno-problema e que, por coincidência, estudava na nossa sala. Ele ficou quieto e nós também.
Dias depois, o colégio encontrava-se em uma calmaria insuportável. Os hormônios em ebulição, aquele desejo por novidades, as aulas vespertinas entremeadas por horas de inatividade. Cristina e eu subimos novamente ao andar da capela. Só pra conferir o hidrante que depois do incidente devia estar muito bem trancado das mãos dos alunos. Só pra conferir… e não estava!
Novamente atentadas… Sem pestanejar desenrolamos a mangueira e abrimos o registro, como da primeira vez. Saímos correndo escadaria abaixo, os corações disparados pela adrenalina. Chegamos ao térreo sem sermos vistas, pegamos nossas coisas e partimos para a rua e para a segurança de nossas casas.
Na manhã seguinte, o professor Vasco entrou na sala como um furação. Ele espumava, berrava, socava a mesa. O responsável, ou responsáveis seriam expulsos do colégio, blá, blá blá… Acabada a ladainha, ele sai bufando e a classe toda vira-se pra o fundão, onde Renato está sentado, incólume, com a consciência tranquila.
- Fala Renato, foi você!
- Euuuuuu?
E de tanto especularem, Renato acabou gostando da projeção que teve sem querer e nunca negou o fato. Por isso não tivemos o menor peso na consciência que a culpa tenha recaído sobre ele. Calou-se e quem cala, consente.
Quanto a nós, meninas de família e acima de qualquer suspeita, levamos esse segredo cada uma para nossas vidas particulares. E hoje, depois de mais de vinte anos em que estivemos perdidas uma da outra, podemos finalmente divulgar essas artes.
Ah, claro, embora a tentação fosse grande, achamos prudente não repetir uma terceira vez. Temos certeza que o professor Vasco deve ter ficado dias e dias de plantão para ver se pegava alguém em flagrante.
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