quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Cantiga

Cantiga


Canto,
Te ouço, canto
O encanto de cada nota
De cada som
Em cada um dos espinhos
De uma serena cantata,
A breve serenata
Um ligeiro gracejo
Na poça d’água que se desfaz em pingos
Canto a toada que embala
Em noite tinta, a cantiga borrada
Que o mata-borrão deixou limpo
Como o mais puro dos linhos

Canto,
Só quero um tanto
Derrama-se em cântaro
Enquanto a ti cantarejo
Uma doce melodia,
Num prado orvalhado
Pra se ouvir calado
A seresta amiga pela qual pelejo
Ah, enche de versos esse meu cantil
Enquanto entoando
Aquele hino tão fácil
Se faz ouvir ao longe
Por entre as sombras das araucárias
O canto das aves canoras
Em canções centenárias
No mais exato dos acordes
Pra que bem cedo acordes
Sereno, ameno
E ouça o que queres ouvir

Canto a vida
Canto a beleza das formas
Canto a alegria de saltar corda
A loucura, a sina
Cantigas e mágoas,
Canções e lamúrias
Em espera paciente
Que se dissolvam as agruras
E reste somente a voz,
Na imprevisão de nossas rimas


Canto,
Te procuro num canto,
Escondido
Aguardando o sopro de um desatino
A fartar de beleza a visão
Que jubila com a vida
Revolvendo a terra úmida
Com seus cheiros e aromas de festa
Emprestando ao céu as bolhas de sabão
Fugidas das pautas
As claves incautas
Pra que façam viver soltos os pássaros
Cantarolando por cima do portão


Anto 15/01/2008

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