domingo, 13 de março de 2011

Reflexões

Um trecho do Evangelho de São João - Capítulo 1:
"1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o verbo era Deus. 2 Ele estava no princípio junto de Deus. 3 Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. 4 Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. 5 A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. 6 ..."

Outro dia, entre uma conversa e outra sobre os sentimentos que decorrem das mortes, ganhei de uma amiga (Le) o livro Ágape (o amor incondicional), do Padre Marcelo Rossi. Ela me dizia que o livro tratava de certas passagens da Bíblia, especificamente do Evangelho de São João e que os comentários do padre se encaixavam em determinados momentos da vida das pessoas. Comecei a lê-lo assim que cheguei em casa, mas admito, caí num sono profundo já no prefácio.
Peguei novamente o livro agora a pouco e logo entrei em um assunto que achei interessante, o dualismo entre luz e trevas. 
Em visão simplista, é quase como o dilema do ovo e da galinha, quem nasceu de quem, como um surgiu sem o outro. Desconheço se os cientistas chegaram a determinar algo a este respeito.
Entretanto, na esfera religiosa, o autor nos presenteia com seu parecer filosófico, em explicação bastante didática e permeada com exemplos reais.
Não sou carola, fanática ou coisa parecida, nem entendida em assuntos bíblicos, mas ainda tenho a capacidade de me sentir pequena diante de certos mistérios, de me emocionar, de compreender, de lutar por um ideal ou de me resignar em razão do inevitável.
Assim, achei bacana transcrever o trecho supra e também o trecho logo mais abaixo, contendo as reflexões do autor sobre a existência da Luz.
Espero que gostem.

"O tema da luz está presente em toda a palavra de Deus. A criação do mundo e do homem é uma vitória da luz sobre as trevas. São Paulo revela que o cristão é Filho da Luz.
E o que significa ser Filho da Luz?
O sentido de trevas ou escuridão é dado àquilo que não se vê ou àquilo que não se pode ver porque envergonha. A violência, a corrupção, a mentira, o pecado nos remetem para as trevas. Um marido que espanca sua mulher ou que trai sua relação esconde a ação vergonhosa. O pai que mente para o filho ou o filho que mente para o pai não quer ser descoberto. O falso médico, o advogado mentiroso, o político desonesto, o motorista embriagado, todos de alguma maneira vivem na escuridão. A luz revela, Se há alguma sujeira na casa e as luzes estão apagadas, as pessoas não conseguem perceber a ausência do cuidado, da limpeza. Quando a luz se acende, o que era sujo começa a incomodar.
Cristo é o Filho da Luz. E os cristãos são convidados a ser os novos cristos. Portanto, todos nós somos chamados a ser Filhos da Luz.
Quem vive no escuro tem medo da luz. Quem passa alguns dias dentro de um quarto escuro, com as janelas fechadas, quando entra a primeira fresta de luz, tem a sensação de cegueira de tanto que a luz incomoda. É preciso se acostumar com a luz para que os olhos enxerguem, de fato, a paisagem que antes estava escondida.
A escuridão nos remete aos erros. Não os erros que cometemos. Errar faz parte. A escuridão faz parte dos erros em cuja permanência insistimos. Há tantos erros que são facilmente percebidos, mas a nossa teimosia e comodismo nos impedem a busca de uma nova vida. E incorremos nos mesmo erros. Evidentemente, há doenças que maculam uma vida. Sei o quanto irmãos nossos, doentes do alcoolismo, tentam se livrar e não conseguem. Não julguemos. Há muitos que acusam esses irmãos de vadios, irresponsáveis, fracos. O alcoolismo é uma doença. O usuário das drogas ilícitas também vive um inferno. O inferno do vício, o inferno da escravidão, Por isso prevenir é tão importante. Quando o problema surge, é preciso paciência, perseverança e muito amor. Não se retira um filho das drogas com espancamentos nem com expulsões. Quando o vício já faz parte da vida de um jovem, é preciso mais cuidado ainda, mais amor ainda para que uma nova vida possa surgir. Uma vida iluminada.
A luz é a novidade. A paisagem só pode ser contemplada verdadeiramente sob a luz, sem sujeiras.
Gosto daquela história das duas famílias que moravam uma em frente à outra. Todos os dias, o marido de uma das casas, ao voltar do trabalho, encontrava a esposa reparando nas roupas sujas penduradas na área da casa vizinha. Ficava indignada. Não entendia por que não as lavava adequadamente  primeiro, para só depois colocá-las no varal. E dizia isso com impaciência  e com a certeza de que a vizinha era descuidada e suja. Depois de algum tempo, cansado das reclamações da mulher, o marido deu uma sugestão simples e óbvia. Disse a ela que limpasse o vidro da janela da sala deles, que estava imundo, e, então, veria que não eram as roupas da vizinha que estavam sujas.
História simples com um ensinamento de grande significado. O descuido com a limpeza não era da vizinha, É fácil jogar a culpa no outro. O problema é sempre do outro. Ser Filho da Luz é iluminar a vida para que os meus problemas sejam resolvidos. Para isso é preciso assumir que eles existem. Na história, a mulher não imaginava  que era a sua vidraça que estava suja. Essa é uma questão importante. A dificuldade em ver o meu problema  faz com que eu não consiga solucioná-lo. O primeiro passo para levantar é ter a percepção da queda.
Jesus veio ao mundo, veio para os seus e os seus não O reconheceram. Faltou luz, Ágape é luz. É luz que dissipa as trevas, que dissipa a escuridão. É luz que ilumina e aquece."

Padre Marcelo Rossi - em Ágape

Um comentário:

untitled disse...

Minha querida, que interessante que você escreveu sobre luz e trevas aqui. Tenho refletido tanto sobre a sombra. Recentemente li algumas coisas do Jung sobre a necessidade de integrarmos em nós mesmos também a escuridão, pois daí surgirá uma luz intensa.
“Qualquer indivíduo é acompanhado por uma sombra, e quanto menos ela estiver incorporada na sua vida consciente, mais espessa e escura se torna.” Jung
Beijo!