segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Spleen

Spleen


Ah, quem dera pudesse eu provar
Dos Paraísos Artificiais de Baudelaire
E sentir-me entorpecer por completo…

Quisera eu coragem para abraçar ao peito
Todas as Flores do Mal por ele cultivadas
Formosas, estão elas jogadas ao leito
Sentindo-se tão poeticamente amadas…

Não quero dar conta do que é real
Pois já não conjugo o verbo realizar
Transfigurei-me em flor do mal

E tu, que tomastes num dia meu corpo são,
Ora queres minh’alma insana,
Enquanto meu incerto destino
Repousa quieto em tuas mãos…

De que espécie é a sede que padeces?

Te peço, fica comigo, qual desígnio!
Pois se és o fogo que me alimenta,
És também o desforro que me há de fustigar
Ah, tamanha ambigüidade…

Golpeias o escudo sagrado que me protege
E empunhas a lança que me será arremessada em breve
Tencionando a chaga mortal já predita
Tal e qual o são as letais flores malditas
Que alimentam o Spleen que me há de corromper

Ó doce irmão espúrio que está a rondar-me noite e dia
Sacrificas algo mais que a podre vida
Em nome de qual virtude?

És o escravo imoral das vicissitudes,
Quem me ama e mo diz em sonhos
Mas não consegue livrar-se de fardo enfadonho
O nu, o incompleto, o inverídico postiço…

Tens razão em procurar diálogos com esta Rosa-Louca
Ainda que maligna, em flor encarnada
Só a ela foi dado o poder de a ti conhecer
Decifrando o enigma recorrente,
O antídoto ao veneno da serpente
Que está a perverter-te a pureza com incertezas

Cala a boca que leva o mal
Por que ele penetrou-te fundo nas entranhas
E está a corroer-te o espírito de maneira tacanha

Vive pois o dia de hoje
Assim como vivo eu um após o outro
Esperando angustiada o derradeiro
Que há de vir logo ao meu encontro certeiro

Ah, basta!
Sobreveio o tenebroso momento
De estar face a face consigo mesmo, eu sei

A loucura não veio tirar-me os sentidos
E sim restituir-me a visão ao mundo
Assim posso dizer que não lamento
Ainda que infeliz por fora
A felicidade me apraz por dentro,
Por um momento…

Sei que padeço a verdade
Da mesma forma que estás tu a vive-la
E onde afinal jazem as Flores do Mal?

Ó dias de insensatez total!

Caí doente ante as maledicências
Caímos por completo e pó nos tornamos
Antes de renascermos sob as asas da Fenix

E no que pensar diante do Spleen
O jugo que me há de matar?

O fantasma da solidão ronda e incomoda
Tira-o daqui, se podes
Vai, obedeça tua mãe ao menos uma vez

Talvez…


Anto 06-06-06










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